Por André Krupp e Tássila Maia
Afirmava Chesterton: "O ideal cristão não foi considerado deficiente após testado. Ele
foi considerado difícil e deixado de lado”. A abertura à vida, exigência do
amor conjugal, parece ser um desses “ideais cristãos” deixados de lado. Quando
o Papa Paulo VI, corajosamente, reafirmou na encíclica Humanae Vitae a posição da Igreja contra os anticoncepcionais foi
rechaçado por grande número de fiéis e de clérigos, que consideravam tal
postura “antiquada” e “retrógrada”. No entanto, a Igreja, sabiamente, nunca
voltou atrás e, mesmo não agradando aos homens, não voltará, pois sabe que os
contraceptivos ferem gravemente a dignidade do ato conjugal e, logo, prejudicam
o matrimônio. A encíclica de Paulo VI, assim, recomendava, nos casos em que
haja necessidade por motivos sérios, espaçar os nascimentos utilizando-se dos
métodos naturais de controle da procriação.
Nesse contexto, surgiu nas últimas décadas um
grande conflito interno na Igreja: enquanto a doutrina aponta para um caminho,
a prática dos casais se faz completamente diferente. Arturo e Hermelinda, casal
brasileiro com 20 anos de experiência em trabalhos com casais, em seu
depoimento aos bispos e ao Papa no recente Sínodo da Família, testemunharam:
“[...] temos que admitir sem medo que muitos casais católicos, mesmo os que
procuram viver seriamente o seu matrimônio, não se sentem obrigados a usar
apenas os métodos naturais. Nas Equipes de Nossa Senhora não é diferente.
Devemos acrescentar ainda que geralmente não são questionados pelos
confessores. Por um lado, os casais estão abertos à vida e rejeitam o aborto,
isto é fato. Por outro, não percebemos nas pregações e atendimentos espirituais
a insistência na doutrina da Humanae
Vitae.”
O mundo moderno rejeitou os ensinamentos da Humanae Vitae não por um fracasso
prático ou uma discordância teológica, mas simplesmente porque se encontra
imerso numa cultura fraca e egoísta. A revolução sexual, na tentativa
frustrante de desvincular o amor da responsabilidade, acabou criando uma
caricatura de amor, uma experiência de relação muito mais ligada à sensibilidade
que ao compromisso (não só desvinculada do compromisso com o cônjuge, mas com
Deus, com a Igreja, com a sociedade e com os filhos).
Influenciadas por esta revolução, observa-se
hoje que, de um modo geral, as pessoas querem amar, querem doar-se, mas numa
doação “segura”, cheia de reservas, de precauções. Querem ter o controle de
todas as situações, se beneficiarem dos direitos do matrimônio sem cumprir os
seus deveres, obter o máximo de prazer e o mínimo de sacrifício. As pessoas
decidem se querem ou não ter filhos com a arbitrariedade de quem compra um
carro. Não é este o desejo de Deus para o santo matrimônio!
O desejo de Deus é que o homem confie na
sabedoria da Criação, que confie na sua Providência, que rege e governa o
universo. O desejo de Deus é que as famílias tenham menos preocupações e um
pouco mais de confiança, abrindo-se ao amor que gera vida. É preciso construir
a casa sobre a Rocha e não sobre a areia das “seguranças mundanas”. O desejo de
Deus é que os casais deixem de utilizar-se dos métodos anticoncepcionais e se
abram a uma nova experiência. A experiência do amor total, livre, fiel e
fecundo. Assim, o uso dos métodos naturais, motivado pela fé e obediência às
leis divinas, é um grande ato de amor a Deus e um belíssimo testemunho.
A Providência de Deus permitiu ao homem tal
sabedoria a ponto de conhecer com precisão os dias férteis da mulher e
desenvolver métodos de controle da natalidade que, ao contrário dos
contraceptivos, não anulam a fecundidade do ato conjugal. Permitiu que um dos ideais do matrimônio (abertura à vida) não fosse descartado devido a uma necessidade
temporal (espaçamento dos nascimentos).
Quem vive a experiência dos métodos naturais
na prática, afirma com alegria que eles favorecem o diálogo entre o casal e
ajudam-no a educar a vontade, amando-se com amor cada vez mais humano. A
misericórdia de Deus Pai não abandona seus filhos em suas necessidades! Abrir
mão deste amparo não faz nenhum sentido.
Os cristãos são convidados, hoje, a serem sal
da terra e luz do mundo, comportando-se de forma diferente da apregoada por
este mundo neopagão, enxergando os filhos como bênção e a lei de Deus como
jugo suave.
Eis o convite da Igreja aos casais que hoje
ainda se utilizam de contraceptivos: conheçam os métodos naturais, tirem suas
dúvidas, abram-se a essa experiência.
“Não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso
espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o
que lhe agrada e o que é perfeito.” (Romanos 12, 2)