sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Educando para o Céu

Por André Krupp e Tássila Maia

A mais nobre finalidade da vocação matrimonial é gerar santos para Deus. Para tanto, não basta simplesmente ter filhos, mas é preciso também educá-los. E educá-los segundo a fé, cumprindo de forma integral a promessa feita diante do altar. Eis aí o maior desafio do casal católico!
Gostaríamos de propor aqui não um conjunto de exercícios ou atividades educacionais, mas uma reflexão sobre a própria finalidade da educação, para que, tendo bem clara esta finalidade, o casal possa, alicerçado nela, lançar mão dos mais diversos recursos de formação humana, intelectual, afetiva e espiritual.
O objetivo final de toda a educação cristã é que os filhos vivam a santidade em sua vocação. Que eles tenham clara a realidade da vida eterna, que desejem agradar a Deus todos os dias, que se exercitem nas virtudes, que sejam desapegados do mundo e confiem piamente na providência divina. Enfim, que amem a Deus sobre todas as coisas. 

Que tenham clara a realidade da vida eterna

O céu é uma realidade, é algo concreto - não apenas uma fábula ou figura de linguagem. Teoricamente, sabemos disso. Mas, e na vida prática? Preparamo-nos para uma viagem e ansiamos pelo dia em que ela irá chegar, nos capacitamos para um emprego e ansiamos pelo dia em que o conquistaremos... assim também devemos nos preparar e ansiar pela vida eterna, pois tal como o emprego ou a viagem, a vida eterna é uma realidade. 
Entender o Céu como algo concreto ajuda a superar as dificuldades que a vida terrena nos impõe, faz-nos compreender que a cruz é passageira e que determinados problemas que tiram o sono muitas vezes não passam de futilidade. Ter em mente a verdade do Céu nos possibilita entender que podemos, sim, alcançar "coroas perecíveis" ao longo da vida, mas que a única verdadeiramente importante é aquela imperecível que nos concede a plena comunhão com a Trindade. Nossos filhos precisam aprender desde cedo a ter esse olhar sobrenatural, enxergar esta vida como um caminho, uma peregrinação até a Pátria definitiva.

Que desejem agradar a Deus todos os dias

É necessário que os filhos compreendam que o cristianismo não é uma ideia. "O cristianismo é Cristo! É uma Pessoa, é o que vive!" (João Paulo II). Viver a fé não pode jamais se resumir ao cumprimento de preceitos morais. Deve supor, primeiramente, conhecer e estabelecer uma relação com a pessoa de Jesus Cristo, uma verdadeira amizade. O desejo de agradar a Deus brotará naturalmente dessa relação. 
Cristo não deve ser encarado como alguém distante ou indiferente. É preciso ensinar os filhos a ter intimidade com Ele, partilhar com Ele sua vida, cultivar essa afeição. As crianças devem perceber Jesus como seu verdadeiro amigo, que os acompanha e os auxilia ao longo do dia, e que podem e devem recorrer ao seu auxílio e compartilhar suas angústias e dificuldades, assim como suas alegrias. Eles precisam ter a consciência de que Cristo se ofereceu em sacrifício porque nos ama a cada um de maneira pessoal e, por isso, devemos corresponder a esse amor. Essa proximidade também deve ser estimulada em relação ao Anjo da Guarda, à Virgem Maria e aos Santos. Tal amizade faz com que a busca pela santidade não se torne um pesado fardo de regras e restrições, mas sim um caminho suave, de quem deseja agradar aquele a quem ama.

Que se exercitem nas virtudes

A santidade pressupõe as virtudes e, de certa forma, também as tem como consequência. Crescemos em santidade conforme crescemos em virtude. Só é possivel amar a Deus e ao próximo sendo virtuosos, pois o amor é paciente, é prestativo, não se enche de orgulho, se alegra com a verdade...
Com as consequências do pecado original, o homem tende ao erro, à fraqueza, ao vício. O pecado induz o homem a viver segundo seus desejos e o torna egoísta. Para se tornar virtuoso, o homem tem de fortalecer a sua vontade, submetendo os desejos à razão, a carne ao espírito. Para tanto, são necessários o esforço humano e o auxílio da graça. Desse modo, quanto mais cedo se conquista as virtudes, menos árdua se torna essa batalha e os bons hábitos serão adquiridos muito mais facilmente. Os pais precisam conduzir os filhos no caminho das virtudes, praticando e estimulando as obras de misericórdia e dando eles mesmos o exemplo por uma conduta verdadeiramente cristã.

Que sejam desapegados do mundo e confiem piamente na providência divina

O apego ao mundo e, consequentemente, ao dinheiro, é hoje uma realidade tão enraizada no seio das famílias que gera, de fato, uma triste idolatria. Decisões, sonhos, metas e até brigas... tudo gira em torno do dinheiro. Infelizmente, essa mentalidade materialista acaba por ser transmitida aos filhos. Quanto mais apegadas as pessoas estão ao dinheiro, menos confiam na Divina Providência, tornando-se cada vez mais autossuficientes. 
Já o desapego nos abre as portas para a Providência e evita que os bens deste mundo se tornem valores absolutos. Ser desapegado não significa abrir mão das coisas materiais, mas sim confiar que Deus, em sua infinita sabedoria e bondade, nos dará aquilo de que necessitamos para nos santificarmos, seja a riqueza ou a pobreza, a saúde ou a doença. Muito mais que ensinados, a confiança na Providência e o desapego do mundo devem ser testemunhados pelos pais aos filhos. Eles devem ter a convicção de que ser bem sucedido nesta vida significa ser santo. Todo o mais é acréscimo.

Enfim, a real preocupação dos pais no que toca a edução dos filhos deve ser ensiná-los a amar a Deus, amar a Santíssima Virgem Maria e amar a Igreja. Esta é a meta e, ao mesmo tempo, o alicerce de toda a educação cristã. Mãos a obra! 
Que Deus nos abençoe e a Virgem nos proteja!