quinta-feira, 21 de maio de 2015

Em Maria, a perfeita feminilidade



 Por Tássila Maia

O livro do Gênesis narra que Deus criou o homem e a mulher. Deu origem à humanidade enxertando nos corpos e corações de Adão e Eva a masculinidade e a feminilidade, respectivamente, como um dom de complementariedade que os ajudaria a atingir a meta de todo o gênero humano: o amor. Desta forma, o plano original de Deus para a mulher incluía a vivência de sua feminilidade como caminho para realizar-se enquanto pessoa, utilizando-se das características próprias do gênero feminino para progredir no amor.
Infelizmente, após a entrada do pecado do mundo, o entendimento do ser humano ficou obscurecido e, assim, a aceitação e vivência da feminilidade cada vez mais necessitada da ação da graça divina para realizar-se plenamente. A natureza da mulher, manchada pelo pecado, tornou-se como que um obstáculo para a compreensão do plano de Deus para ela.
No mundo atual, após a conquista da “tão sonhada” emancipação feminina, os frutos podres do feminismo radical se manifestam. Lançando fora a complementariedade dos sexos e suplantando-a pela competitividade entre homem e mulher, diversos estudos já apontam para uma crescente infelicidade entre mulheres de todas as idades. Facilmente se conclui que a ascensão do feminismo dificultou para as mulheres – até mesmo para as cristãs – a percepção da feminilidade como via de autorrealização e, mais ainda, como caminho de salvação. “Elas se deixaram convencer que a feminilidade significava fragilidade”, aponta Alice von Hildebrand, doutora em filosofia pela Fordham University. Tal concepção deu origem a uma busca por imitar as características masculinas, desencadeando, assim, uma geração de “mulheres masculinizadas”, não no sentido superficial, como se isso se limitasse ao vestuário ou ao modo de falar, mas no sentido profundo de que as mulheres parecem estar menosprezando sua própria feminilidade. “O mundo atual acha-se totalmente desestabilizado porque a mulher não sabe mais quem ela é. Mais do que nunca, hoje se coloca de modo crucial o problema de sua identidade e de sua missão”, afirma a escritora francesa Jo Croissant, no início de seu livro “A mulher sacerdotal”.
Diante deste dramático quadro, onde encontrar um modelo, uma inspiração para a redescoberta da feminilidade cristã?
A resposta não poderia ser outra... Em Maria, a Virgem de Nazaré, o gênero feminino encontra a plenitude das virtudes que lhe são próprias. Nela, as mulheres possuem o seu seguro referencial. Escreve o Papa João Paulo II: “A Igreja vê, em Maria, a máxima expressão do ‘gênio feminino’ e encontra n'Ela uma fonte incessante de inspiração”. E bem resume Santa Teresa dos Andes: “A Santíssima Virgem é o modelo mais perfeito de nosso sexo”.
Algumas características virtuosas da Virgem Mãe de Deus merecem ser citadas como exemplos de conduta para o resgate da feminilidade cristã:

Receptividade à graça divina
Para ser uma mulher segundo a vontade de Deus, é necessário deixar-se modelar por esta Santa Vontade, ser receptiva à graça. Tal receptividade não significa passividade, mas sim confiar-se sem reservas ao desígnio divino. Sobre este ponto, comenta Alice von Hildebrand: “A mulher tem uma grande vantagem sobre o homem, ela é receptiva e religiosamente falante, receptividade é uma virtude crucial. A Santa Virgem nos ensinou quando Ela disse na Anunciação ‘faça-se em mim segundo a Vossa Palavra’. Ela não estava realizando nada, ela apenas disse: ‘faça-se’. Em outras palavras, ela era receptiva e sua receptividade permitiu ao Espírito Santo fecundá-la e naquele exato momento o Filho de Deus se encarnou no seu ventre. Santa Teresa de Ávila e São Pedro Alcântara dizem que muito mais mulheres que homens recebem extraordinárias graças místicas, e se você estudar a história do misticismo você ficará surpreso o quanto muito mais mulheres que homens foram místicos. Por quê? Elas são mais receptivas e você percebe que, para Deus, nós somos todas mulheres. Um santo se torna um homem santo porque ele aprendeu a ser receptivo à graça de Deus. ‘Dê-me a mim, Ó Senhor, eu não consigo fazê-la por mim mesmo’”.

Coragem
Assumir a feminilidade cristã requer coragem. Os modelos de mulheres apresentados pela sociedade atual não condizem – nem um pouco! – com o ideal católico. Dessa maneira, a coragem faz-se uma virtude indispensável para assumir-se mulher sem “conformar-se a este mundo”, como recomendava o Apóstolo. Estar aberta à vida, aos filhos que Deus enviar, estar disposta a entregar-se num matrimônio fiel por toda a vida, não submeter-se aos ditames da moda ou aos padrões estéticos estabelecidos... tudo isso se faz um grande desafio para a mulher cristã. Maria, ao responder “sim” à vontade de Deus assumiu todas as consequências de sua decisão. Sabia dos riscos e sofrimentos que tal escolha poderia causar (a rejeição de José, a incompreensão e até mesmo o apedrejamento!). No entanto, não hesitou em responder generosamente à sua vocação.

Silêncio e discrição
A Santa Virgem ensina a cada uma das mulheres que a alma, quando cheia de Deus, torna-se amante do silêncio. O Papa Francisco refletiu, em sua homilia do dia 20 de dezembro de 2013, sobre a relação entre Nossa Senhora e o silêncio: “Era silenciosa, mas dentro do seu coração, quanta coisa dizia ao Senhor! (…) Ela, com o silêncio, cobriu o mistério que não entendia e com este silêncio deixou que este mistério pudesse crescer e florescer na esperança (…) O silêncio é o que protege o mistério. Que o Senhor nos dê a graça de amar o silêncio, de procurá-lo e ter um coração protegido pela nuvem do silêncio". A feminilidade implica também saber preservar o mistério que é próprio da mulher. Ser discreta e silenciosa ajuda a equilibrar as emoções, falar com sabedoria, refletir sobre as decisões a serem tomadas e a comportar-se educadamente, como convém.

Delicadeza e modéstia
A virtude da modéstia resplandece em Maria, a “toda bela”. A mulher cristã deve espelhar-se na singeleza desta Virgem para modelar todo seu proceder. Aprender, com ela, a ser modesta primeiramente no coração, para assim transbordar essa tão bela virtude em seu exterior. As vestimentas, os gestos, o modo de falar, de olhar, todo o comportamento da mulher católica deve estar permeado desta delicadeza que exprime sua dignidade de filha de Deus.  Exorta-nos Santo Ambrósio: “Tem sempre diante de teus olhos a pureza, ou, para melhor dizer, a vida de Maria, como um quadro em que resplandece a perfeição das virtudes. Seja tua vida modelada pela de Maria, e aprende com ela o que deves corrigir, o que deves evitar, e o que deves fazer”.

Doação de si mesma
Por fim, a Mãe de Deus, como amou de modo perfeito, de modo perfeito entregou sua vida em oblação ao Senhor Deus. Esta oferta total de si, que se realiza de modo concreto no amor a Deus e ao próximo, manifesta-se de maneira particular na mulher. A gestação e o parto, por exemplo, são formas muito claras onde essa doação é vivenciada “ao extremo”. Nestas ocasiões, pode a mulher, de certa forma, afirmar: “Isto é o meu corpo dado por vós”, como maravilhosamente assinala Kimberly Hahn em seu livro “O amor que dá vida”. A feminilidade precisa ser assumida como verdadeira alegria em dar-se, consumir-se por amor. Não foi assim toda a vida de Maria?


No instante em que cada mulher cristã redescobrir o valor de sua feminilidade, espelhando-se em Maria, a quem Deus constituiu Rainha do Céu e da Terra, superior aos anjos e a todos os santos, neste momento acontecerá a verdadeira “revolução feminina”: aquela capaz de satisfazer o coração porque encontra-se plenamente alinhada ao plano amoroso de Deus. 

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Qual é o momento certo para ter filhos?

Este é um dos questionamentos mais frequentes na vida de um jovem casal. As exigências do mundo atual são muito maiores que as de algumas décadas atrás. Os jovens já trazem consigo a grande responsabilidade de iniciarem a vida adulta tendo conquistado um bom salário, estabilidade financeira, a casa própria, carro e etc. Toda esta pressão, na maioria das vezes, acaba por adiar o início da vida matrimonial e, ainda mais, a vinda dos filhos. O grande problema é que esta nova realidade de mundo pouco a pouco tem corrompido o conceito de essencial, categorizando aquilo que é supérfluo como necessário. Isso impõe aos jovens a falsa impressão de que para terem sucesso na sua vocação de esposos e pais precisam, antes de tudo, destas conquistas temporais.
Na verdade, a vida moderna tornou-se uma espécie de prisão que em muitos casos faz com que os cristãos enxerguem de forma pejorativa ou superficial a Providência de Deus em suas vidas. A Providência deixa de ser o ponto de partida e o motor de toda a vida da família e passa a ser um pequeno detalhe dentro de um planejamento familiar.
Jesus, ao se referir a este assunto, não se utilizou de parábolas, mas quis expor seu ensinamento da forma mais clara possível, como narrado no evangelho de São Mateus (6, 25-34):
“Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.”
“Os pagãos é que se preocupam com tudo isso”, afirma Jesus. Quando se condiciona a abertura à vida a capacidades meramente humanas age-se como um pagão. Não cabe a um cristão traçar os rumos de sua vida mediante suas próprias potencialidades. É como se Jesus dissesse: “Por que ficais aflitos com a promoção no emprego ou com a prova do concurso? Por que vos inquietais com a faculdade ou com o mestrado? Por que vos preocupais com como conseguirá fazer a comida ou arrumar a casa? São os pagãos que se preocupam com tudo isso”. A exortação a não preocupar-se não representa um convite a viver na inércia, sem esforçar-se por criar condições melhores de vida, mas sim um convite a reflexão de que a vida do cristão deve estar inteiramente alicerçada em Deus e constantemente sujeita a sua Providência.
Em outro trecho do Evangelho, Jesus afirma que para conquistar o Reino de Deus é preciso ser como crianças (cf. Mt 18,3), ou seja, confiar incondicionalmente no Pai do Céu, que sabe das necessidades espirituais, emocionais e materiais de seus filhos. “Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.” (Mt 6, 32b).
A Providência é o amor de Deus que governa o mundo, é a rocha na qual o casal cristão deve construir sua casa. Infelizmente, muitos tem preferido construir o seu lar na areia da sua própria autossuficiência, frustrando-se na primeira tempestade ou naufragando cada vez mais em seu próprio egoísmo. Um pai sabe o que o filho precisa, e todos os batizados tem um Pai! Não qualquer pai, mas Aquele que é onipotente e sumamente bom, que se preocupa e ocupa pessoalmente com a vida de cada um dos seus. “Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem” (Mateus, 7, 9-11). Enquanto não houver confiança filial, será impossível dar os passos de fé que todo casal católico é convidado a assumir. Antes de ser pais, é necessário aprender a ser filhos do Divino Pai.
Finalizando seu ensinamento, afirma Jesus: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo”. Hoje, muitos cristãos, ainda que sem intenção, vivem o oposto: “Buscai em primeiro lugar todas essas coisas e o Reino de Deus vos será dado em acréscimo.” Honestamente, Deus não se importa em qual escola seus filhos irão estudar, qual a marca do carro que irão comprar ou qual será o lugar que visitarão nas férias. Deus se importa com o quanto estão dispostos a se doarem por seus filhos. Deus se importa com o quanto estão dispostos a renunciarem do seu conforto ou posição social em prol da generosidade para com Ele.
Tolo é o homem que acredita poder planejar seu futuro com uma caneta e uma calculadora. Infeliz daquele que confia mais nos números de sua poupança que nas palavras do Evangelho.
E respondendo à pergunta que intitula o texto, o momento certo para ter o primeiro, segundo, terceiro ou os próximos filhos é quando o casal está pronto a se entregar a Providência Divina, empenhando-se a cada dia, com o auxílio da graça, para realizar plena e generosamente a vocação de serem pais. Na realidade, a generosidade da paternidade responsável não almeja uma fecundidade a conta-gotas, e a pergunta certa a fazer não é “quando devemos ter filhos?”, mas sim “quando não tê-los?”.
Que não se confunda abandono filial com irresponsabilidade. Que não se confunda prudência com calculismo. Que os desafios da abertura à vida sejam sempre motivos de alegria, não um peso. Não vos deixeis intimidar por sua própria fecundidade! O Pai Celeste cuida de vós!

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Voltamos!

Olá, queridos amigos e leitores!

Estivemos inativos por algum tempo devido a afazeres pessoais relacionados a emprego, mudança e outras coisas.
Mas agora declaramos oficialmente aberta a temporada 2015 do In Carne Una! Em breve, retornaremos a postar periodicamente textos e também entrevistas.
Desejamos a todos uma ótima semana sob as bênçãos de Nossa Senhora de Fátima!

Um grande abraço!