quinta-feira, 14 de maio de 2015

Qual é o momento certo para ter filhos?

Este é um dos questionamentos mais frequentes na vida de um jovem casal. As exigências do mundo atual são muito maiores que as de algumas décadas atrás. Os jovens já trazem consigo a grande responsabilidade de iniciarem a vida adulta tendo conquistado um bom salário, estabilidade financeira, a casa própria, carro e etc. Toda esta pressão, na maioria das vezes, acaba por adiar o início da vida matrimonial e, ainda mais, a vinda dos filhos. O grande problema é que esta nova realidade de mundo pouco a pouco tem corrompido o conceito de essencial, categorizando aquilo que é supérfluo como necessário. Isso impõe aos jovens a falsa impressão de que para terem sucesso na sua vocação de esposos e pais precisam, antes de tudo, destas conquistas temporais.
Na verdade, a vida moderna tornou-se uma espécie de prisão que em muitos casos faz com que os cristãos enxerguem de forma pejorativa ou superficial a Providência de Deus em suas vidas. A Providência deixa de ser o ponto de partida e o motor de toda a vida da família e passa a ser um pequeno detalhe dentro de um planejamento familiar.
Jesus, ao se referir a este assunto, não se utilizou de parábolas, mas quis expor seu ensinamento da forma mais clara possível, como narrado no evangelho de São Mateus (6, 25-34):
“Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.”
“Os pagãos é que se preocupam com tudo isso”, afirma Jesus. Quando se condiciona a abertura à vida a capacidades meramente humanas age-se como um pagão. Não cabe a um cristão traçar os rumos de sua vida mediante suas próprias potencialidades. É como se Jesus dissesse: “Por que ficais aflitos com a promoção no emprego ou com a prova do concurso? Por que vos inquietais com a faculdade ou com o mestrado? Por que vos preocupais com como conseguirá fazer a comida ou arrumar a casa? São os pagãos que se preocupam com tudo isso”. A exortação a não preocupar-se não representa um convite a viver na inércia, sem esforçar-se por criar condições melhores de vida, mas sim um convite a reflexão de que a vida do cristão deve estar inteiramente alicerçada em Deus e constantemente sujeita a sua Providência.
Em outro trecho do Evangelho, Jesus afirma que para conquistar o Reino de Deus é preciso ser como crianças (cf. Mt 18,3), ou seja, confiar incondicionalmente no Pai do Céu, que sabe das necessidades espirituais, emocionais e materiais de seus filhos. “Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.” (Mt 6, 32b).
A Providência é o amor de Deus que governa o mundo, é a rocha na qual o casal cristão deve construir sua casa. Infelizmente, muitos tem preferido construir o seu lar na areia da sua própria autossuficiência, frustrando-se na primeira tempestade ou naufragando cada vez mais em seu próprio egoísmo. Um pai sabe o que o filho precisa, e todos os batizados tem um Pai! Não qualquer pai, mas Aquele que é onipotente e sumamente bom, que se preocupa e ocupa pessoalmente com a vida de cada um dos seus. “Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem” (Mateus, 7, 9-11). Enquanto não houver confiança filial, será impossível dar os passos de fé que todo casal católico é convidado a assumir. Antes de ser pais, é necessário aprender a ser filhos do Divino Pai.
Finalizando seu ensinamento, afirma Jesus: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo”. Hoje, muitos cristãos, ainda que sem intenção, vivem o oposto: “Buscai em primeiro lugar todas essas coisas e o Reino de Deus vos será dado em acréscimo.” Honestamente, Deus não se importa em qual escola seus filhos irão estudar, qual a marca do carro que irão comprar ou qual será o lugar que visitarão nas férias. Deus se importa com o quanto estão dispostos a se doarem por seus filhos. Deus se importa com o quanto estão dispostos a renunciarem do seu conforto ou posição social em prol da generosidade para com Ele.
Tolo é o homem que acredita poder planejar seu futuro com uma caneta e uma calculadora. Infeliz daquele que confia mais nos números de sua poupança que nas palavras do Evangelho.
E respondendo à pergunta que intitula o texto, o momento certo para ter o primeiro, segundo, terceiro ou os próximos filhos é quando o casal está pronto a se entregar a Providência Divina, empenhando-se a cada dia, com o auxílio da graça, para realizar plena e generosamente a vocação de serem pais. Na realidade, a generosidade da paternidade responsável não almeja uma fecundidade a conta-gotas, e a pergunta certa a fazer não é “quando devemos ter filhos?”, mas sim “quando não tê-los?”.
Que não se confunda abandono filial com irresponsabilidade. Que não se confunda prudência com calculismo. Que os desafios da abertura à vida sejam sempre motivos de alegria, não um peso. Não vos deixeis intimidar por sua própria fecundidade! O Pai Celeste cuida de vós!

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