Por André Krupp e Tássila Maia
Diz o Catecismo a Igreja Católica (§2349): “Existem três formas da virtude da castidade: a primeira, dos esposos;
a segunda, da viuvez; a terceira, da virgindade. Nós não louvamos uma delas
excluindo as outras. Nisso a disciplina da Igreja é rica.” E ainda: “As pessoas casadas são convidadas a viver a
castidade conjugal; os outros praticam a castidade na continência”. Mas o
que a Igreja quer dizer quando emprega o termo “castidade conjugal”?
A
palavra castidade designa uma virtude ou um exercício no qual os desejos são
submetidos à vontade. Quando a razão tem, na pessoa, um maior “poder de persuasão”
que as paixões. Inclui o conhecimento e o domínio de si próprio.
O termo “castidade conjugal”, então,
significa a vivência de uma sexualidade ordenada no casamento segundo a razão e
não subjugada aos impulsos da sensualidade. Obviamente, razão esta iluminada
pela fé no que diz respeito à moral.
Na prática, a castidade no matrimônio implica,
basicamente, três fatores: a fidelidade, a justa moderação e a abertura à vida.
A fidelidade
Um casamento
só é vivido castamente quando há fidelidade.
“Pela sua
própria natureza, o amor conjugal exige dos esposos uma fidelidade inviolável.
Esta é uma consequência da doação de si mesmos que os esposos fazem um ao
outro. O amor quer ser definitivo. Não pode ser ‘até nova ordem’. Esta união
íntima, enquanto doação recíproca de duas pessoas, tal como o bem dos filhos,
exigem a inteira fidelidade dos cônjuges e reclamam a sua união indissolúvel.” (Catecismo da Igreja Católica, § 1646)
O sexo é um ato próprio do matrimônio. Sendo
o matrimônio uma união indissolúvel, o sexo fora do casamento fere a castidade
conjugal, pois fere diretamente a aliança estabelecida entre os esposos, sinal
da aliança de Deus com o homem.
A fidelidade nada mais é que uma atribuição
do amor. O verdadeiro amor é sempre fiel. Escreve o Pe. Javier Abad Gómez, em
seu livro “Fidelidade”: “A ninguém que
saiba amar é necessário ensinar fidelidade.”
A exigência da fidelidade por toda a vida – “até
que a morte os separe” – conduz os esposos a vivenciarem o mesmo amor com o
qual Cristo amou a sua Igreja, um amor que permanece fiel até as últimas
consequências. “A fidelidade exprime a constância em manter a
palavra dada. Deus é fiel. O sacramento do matrimônio introduz o homem e a
mulher na fidelidade de Cristo à sua Igreja. Pela castidade conjugal, eles dão
testemunho deste mistério perante o mundo.” (Catecismo da Igreja Católica, §
2365)
A justa
moderação
O prazer sexual deve ser encarado como uma
consequência da doação total de si ao outro, e não como um fim em si mesmo.
Sendo assim, para viver a castidade conjugal, faz-se necessário ter em vista
uma justa moderação na busca pelo prazer, afim de não tornar-se escravo do
mesmo nem fazer do cônjuge um mero objeto.
“Foi o próprio Criador Quem [...] estabeleceu que, nesta função
[da geração da prole], os esposos experimentassem prazer e satisfação do corpo
e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal ao procurar este
prazer e gozar dele. Aceitam o que o Criador lhes destinou. No entanto, devem
saber manter-se dentro dos limites duma justa moderação.” (Papa Pio XII, 29 de
Outubro de 1951)
Quando se reduz o ato sexual à pura
sensibilidade e o prazer torna-se o seu fim, o casal inicia uma verdadeira
“odisseia sexual”, uma jornada interminável na busca de estímulos cada vez
maiores. Seguindo por este caminho, acabarão por escravizar-se, e o sexo já não
será sinal da doação total entre si por amor. Nas Sagradas Escrituras, o
Arcanjo Rafael instrui Tobias a esse respeito: “O anjo respondeu-lhe: Ouve-me, e eu te mostrarei sobre quem o demônio
tem poder: são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu
pensamento, e se entregam à sua paixão como o cavalo e o burro, que não têm
entendimento: sobre estes o demônio tem poder.” (Tobias 6, 16s)
É preciso estar atento quanto às motivações
para a relação sexual e não deixar-se levar apenas pelos desejos da carne. Não
se pode fechar a vida sexual à graça santificadora do Espírito Santo. A castidade
conjugal é “vida no Espírito”. Quando um casal ora por sua vida sexual, não
alcança somente graças, mas permite que o próprio Espírito de Deus os conduza
um ao outro no amor e para o amor.
A
abertura à vida
A contracepção exime o ato sexual de qualquer
responsabilidade. É uma doação com reservas, o que acaba por também reduzir o
sexo à pura sensibilidade, ferindo gravemente sua dignidade. Não se pode
doar-se inteiramente ao usar contraceptivos. Não se pode experimentar
profundamente a união das pessoas quando existe na relação tão grande reserva.
“Com efeito, a contracepção não é apenas uma ação sem sentido; é
uma ação que contradiz o sentido essencial do verdadeiro relacionamento
conjugal, pois este deveria expressar uma autodoação incondicionada e total. Ao
invés de se aceitarem mútua e totalmente, os cônjuges que utilizam
anticoncepcionais rejeitam uma parte do outro, uma vez que a fecundidade é
parte de cada um deles. Rejeitam uma parte do seu amor mútuo: o poder de dar
fruto.” (Cormac Burke, Amor e Casamento)
A contracepção é fruto de uma
cultura de morte. Os mesmos propagadores da contracepção são os que defendem o
aborto e, em alguns casos, o infanticídio. Os católicos, por outro lado, defendem
a vida não só com palavras, mas com o seu testemunho, inclusive no que diz
respeito à própria fecundidade. Desse modo, caso haja a necessidade de espaçar
os nascimentos, pode-se, por amor à vida e respeito ao Criador, lançar mão de
métodos naturais, abstendo-se das relações sexuais durante os períodos férteis.
Sem a abertura à vida, não se pode falar em castidade no matrimônio.
Viver a castidade conjugal não
significa simplesmente seguir um conjunto de normas, mas sim viver a
sexualidade segundo o projeto amoroso de Deus: um amor de fidelidade, de
entrega total, livre de toda a escravidão. Um amor que dá vida.