quinta-feira, 31 de julho de 2014

5 princípios para se utilizar o Método Natural

Por André Krupp e Tássila Maia

Quando um casal se dispõe a viver o seu matrimônio segundo as normas morais da Igreja, abre mão dos métodos artificiais contraceptivos. Porém, o método em si utilizado (para a regulação da procriação) não é o único problema a ser refletido nesta questão. É preciso ir mais fundo, na raiz do problema, ou seja, refletir sobre a mentalidade contraceptiva. Esta mentalidade é, na verdade, um conjunto de conceitos promovidos e sustentados por uma sociedade egoísta e contra a vida, que transforma a ideia de ter filhos num assustador e indesejado fardo para o casal.
 Sendo assim, não basta apenas “trocar” o método artificial pelo natural. O casal necessita, antes de tudo, combater a mentalidade contraceptiva, para que suas decisões de ter ou não ter filhos em determinado momento não seja tomada por motivações egoístas, levando o casal a viver em seu matrimônio a justa generosidade da paternidade responsável.
"É preciso antes de tudo libertar-se de muitas ideias associadas à palavra método. Quando se fala método natural, aceita-se muitas vezes o mesmo ponto de vista que para os métodos artificiais, isto é, deduz-se esse método dos princípios utilitaristas. Assim concebido, o método natural acabaria por ser só mais um dos meios destinados a assegurar o máximo de prazer, com a única diferença de que chegaria a consegui-lo por vias diversas das dos métodos artificiais. Aqui reside o erro fundamental. É evidente que o método chamado natural só é moralmente bom quando corretamente interpretado e aplicado". (Karol Wojtyla, Amor e Responsabilidade)
Para auxiliar na reflexão sobre a correta interpretação e aplicação dos métodos naturais, listamos cinco princípios:

1)           Conhecer as finalidades do matrimônio

O matrimônio é uma vocação e possui duas finalidades complementares: a unitiva e a procriativa. Essas finalidades são subordinadas, sendo a primeira subordinada à segunda. Ter filhos e educá-los na fé é a primeira e mais importante missão de um casal.
 “O matrimónio e o amor conjugal ordenam-se por sua própria natureza à geração e educação da prole. Os filhos são, sem dúvida, o maior dom do matrimónio e contribuem muito para o bem dos próprios pais.” (Gaudium et Spes, 50)
“Entre os benefícios do matrimônio ocupa, portanto, o primeiro lugar, a prole. Na verdade, o próprio Criador do gênero humano que, na sua bondade, quis servir-se dos homens como ministros seus para a propagação da vida, assim o ensinou quando, no paraíso terrestre, instituindo o matrimônio, disse aos nossos primeiros pais e, neles, a todos os futuros esposos: ‘crescei e multiplicai-vos e enchei a terra’. Esta mesma verdade a deduz brilhantemente Santo Agostinho das palavras do Apóstolo S.Paulo a Timóteo, dizendo ‘que a procriação dos filhos seja a razão do matrimônio, o Apóstolo testemunha nestes termos: ‘eu quero que as jovens se casem’. E como se lhe dissessem: ‘mas por quê?’, logo acrescenta: ‘para procriarem filhos, para serem mães de família’”. (Pio XI, Casti Conubii)
O casamento é para os filhos e não os filhos para o casamento. Ou seja, os filhos não vêm para completar a união do casal, mas o casal se une, primeiramente, em vista da geração dos filhos. Quando um casal, sem justas motivações, evita os filhos por um período, os outros fins do matrimônio (união do casal, auxílio mútuo e equilíbrio da concupiscência) também são prejudicados, haja vista que estão subordinados ao fim principal.
“É que, quer no próprio matrimônio, quer no uso do direito conjugal, há também fins secundários, como são o auxílio mútuo, fomentar o amor recíproco e apaziguar a concupiscência, que os cônjuges de nenhum modo estão proibidos de desejar, contanto se respeite sempre a natureza intrínseca do ato e, por conseguinte, a sua subordinação ao fim principal.” (Pio XI, Casti Conubii)

2)           Estimar uma família numerosa

A Igreja nunca considerou irresponsabilidade a geração de muitos filhos, pelo contrário: “A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais.” (CIC §2373).
Filhos são uma bênção, e nada pode mudar essa realidade.
“O Concílio Vaticano II elogia especialmente os cônjuges que são generosos na transmissão da vida com as seguintes palavras: ‘...são dignos de menção muito especial os que de comum acordo, bem ponderado, aceitam com magnanimidade uma prole mais numerosa para educá-la dignamente’ (Gaudium et Spes, 50), e traz em nota o lindo e breve discurso de Pio XII ‘Tra le visite’, de 20/1/58, dirigido às famílias numerosas, das quais diz, entre outras coisas, que são ‘... as mais abençoadas por Deus, prediletas e estimadas pela Igreja como preciosos tesouros. A história não erra quando põe na inobservância das leis do matrimônio e da procriação a primeira causa da decadência dos povos... Nos lares onde há sempre um berço que se balança florescem espontaneamente as virtudes... A família numerosa bem ordenada é quase um santuário visível... São as escolas mais esplêndidas do jardim da Igreja nos quais, como em terreno favorável, floresce a alegria e madura a santidade...’.” (Pe. Carlos Miguel Buella, Modernos ataques contra a família).
São inúmeros os casais que testemunham a grande alegria de irem contra a corrente, gerando uma família numerosa. Como católicos, não podemos ter medo dessa realidade, mas desejá-la, e esperar que Deus providencie todos os meios necessários para cumprir esta belíssima e grandiosa missão.

3)           Encarar o uso do método natural como possibilidade

Confunde-se muito o termo “paternidade responsável” com o termo “planejamento familiar”, que nada mais é do que um outro nome para “controle de natalidade”, termo (cultura) criado por governos e indústrias contraceptivas e abortistas.
“Convém notar como os documentos oficiais do Santo Padre e da Cúria Romana sobre a regulação da procriação nunca empregam o termo ‘planejamento familiar’. Pode-se em vão procurar essa expressão na encíclica Humanae Vitae (Paulo VI, 1968), nos documentos do Concílio Vaticano II (1962-65), na exortação apostólica Familiaris Consortio (João Paulo II, 1981), na encíclica Evangelium Vitae (João Paulo II, 1995) ou no Catecismo da Igreja Católica (1992). A expressão tampouco aparece no Vade-mécum para os confessores sobre alguns temas de moral relacionados com a vida conjugal (Pontifício Conselho para a Família, 1997), que trata especificamente do tema da anticoncepção. Ao contrário, a Igreja usa ‘paternidade responsável’ (que inclui também a abertura para uma família numerosa), ‘continência periódica’ e ‘métodos de regulação da procriação’. Lamentavelmente há católicos, incluindo sacerdotes, bispos e até Conferências Episcopais que dizem que a Igreja aceita o ‘planejamento familiar natural’ ou os métodos naturais de ‘planejamento familiar’. Essa dissonância com o Magistério da Santa Sé deveria absolutamente ser evitada, porque não é uma mera questão de palavras. Por trás das palavras estão conceitos que podem distorcer a doutrina cristã sobre o matrimônio e a procriação.” (Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz, Presidente do Pró-Vida de Anápolis, “Planejamento Familiar”, um termo perigoso na boca dos inocentes”).
Não estamos aqui falando apenas de expressões de linguagem, mas de conceitos que afetam diretamente o uso dos métodos naturais entre casais católicos.
Quando um casal se baseia no conceito de “planejamento familiar” tem a intenção de literalmente “planejar” quando e quantos filhos quer ter. Para isso, utiliza constantemente o método natural de regulação da procriação, o que é moralmente ilícito, não pelo método em si, mas porque a mentalidade contraceptiva (amplamente condenada pela Tradição e o Magistério da Igreja) continua presente neste casal. Assim, apenas “trocaram” o método artificial pelo natural.
Já um casal que busca viver a “paternidade responsável”, como recomenda a Igreja, deseja (como prometeram no dia de seu matrimônio) receber os filhos que Deus lhes conceder. Está sempre aberto à vida e, quando há uma justa motivação para adiar ou espaçar os nascimentos, utiliza para isso a continência periódica, pautada no método natural.
Diz o Catecismo (§2368): “Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulação da procriação. Por razões justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos. Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável. Além disso, regularão seu comportamento segundo os critérios objetivos da moral”.
É importante e altamente recomendável que os casais, desde o noivado, aprendam sobre o método natural e como utilizá-lo, anotando e acompanhando os ciclos de fertilidade constantemente. Não para utilizá-lo obrigatoriamente de forma contínua, mas sempre encarando-o como uma possibilidade oferecida pela Providência de espaçar os nascimentos mediante um grave motivo.


4)           Ponderar os motivos para o adiamento ou espaçamento dos filhos

“Se, portanto, existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições físicas ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias exteriores, a Igreja ensina que então é lícito ter em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradoras, para usar do matrimônio só nos períodos infecundos e, deste modo, regular a natalidade, sem ofender os princípios morais que acabamos de recordar.” (Papa Paulo VI, Humanae Vitae)
É lícito espaçar ou adiar os nascimentos caso haja motivos justos para tal. Esta é uma decisão séria, que deve ser tomada somente após ponderar os motivos (verificando se não provêm do egoísmo ou do medo), orar e, se necessário, pedir o aconselhamento a um diretor espiritual ou a um casal mais experiente também aberto à vida.
É importante lembrar que, como cristãos, não podemos basear nossas decisões segundo os critérios seculares, mas sempre à luz da fé. É preciso, antes de tudo, confiar na Providência de Deus, autor e princípio do amor conjugal, e que convida os esposos a uma generosidade na geração dos filhos. Corresponder ao apelo do Criador claramente implicará sacrifícios como, por exemplo, privar-se de alguns “luxos” e comodidades, assim como abrir mão de um tempo maior para si e para o cônjuge.

5)           Responsabilizar-se pelas decisões enquanto casal

“Os esposos sabem que no dever de transmitir e educar a vida humana - dever que deve ser considerado como a sua missão específica - eles são os cooperadores do amor de Deus criador e como que os seus intérpretes. Desempenhar-se-ão, portanto, desta missão com a sua responsabilidade humana e cristã; com um respeito cheio de docilidade para com Deus, de comum acordo e com esforço comum, formarão retamente a própria consciência, tendo em conta o seu bem próprio e o dos filhos já nascidos ou que preveem virão a nascer, sabendo ver as condições de tempo e da própria situação e tendo, finalmente, em consideração o bem da comunidade familiar, da sociedade temporal e da própria Igreja. São os próprios esposos que, em última instância, devem diante de Deus tomar esta decisão. Mas, no seu modo de proceder, tenham os esposos consciência de que não podem agir arbitrariamente, mas que sempre se devem guiar pela consciência, que se deve conformar com a lei divina, e ser dóceis ao magistério da Igreja, que autenticamente a interpreta à luz do Evangelho.” (Gaudium et Spes, 50)
Cabe ao casal, e somente ao casal, a decisão de espaçar ou não os nascimentos. Mas é importante lembrar que o casal responderá por essa decisão diante de Deus. Assim, é necessário formarem juntos uma reta consciência, iluminada pela luz do Evangelho.

Deus nos chama à vida. Deus deseja famílias numerosas, uma Igreja de numerosas testemunhas, um mundo repleto de cristãos, repleto de sal e luz.
Portanto, irmãos, coragem! Vençamos o mundo e sua cultura de morte. Abramos os corações à vontade de Deus!

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