Por André Krupp e Tássila Maia
Infelizmente, apenas uma pequena parcela da
população vive, de fato, a castidade durante o namoro. Mas, para estes casais
privilegiados, a noite de núpcias torna-se um dos momentos mais esperados do
casamento.
A noite de núpcias consuma o consentimento selado
diante do altar. Os esposos tornam-se, verdadeiramente, “in carne una” – uma só carne, e que alegria para o casal poder ter
a sua primeira relação nestas condições!
No entanto, a expectativa pelo início da vida
sexual é cercada de incertezas e estereótipos, e a ansiedade e falta de
conhecimento podem gerar uma série de frustrações.
Tentaremos aqui iluminar alguns pontos sobre
este assunto.
Como primeiro ponto, gostaríamos de advertir
para os perigos do uso de contraceptivos. E quando utilizamos a palavra
“perigo”, não estamos nos referindo aos malefícios biológicos ou aos seus
efeitos colaterais, mas sim aos males espirituais e às terríveis consequências
decorrentes da tentativa de separar a realidade unitiva e procriativa do ato
conjugal. Em outro texto poderemos aprofundar melhor o tema, mas cabe aqui
dizer que as duas realidades do sexo são inseparáveis. Não se pode anular uma
sem prejudicar a outra. Utilizar contraceptivos significa reduzir a graça
unitiva derramada sobre a vida dos cônjuges. O assunto é tão grave que o Código
do Direito Canônico declara como não consumado o matrimônio de um casal que
ainda não teve uma relação sexual livre do efeito de contraceptivos (cf. CDC, cân. 1061, §1). Em outras
palavras, a contracepção impossibilita a consumação do matrimônio. Por este
motivo, desde o início da vida sexual é preciso afastar-se deste mal.
Passado este ponto, podemos nos remeter agora
à noite de núpcias. Muitos afirmam que a consumação deve ser feita,
necessariamente, no dia do casamento. Outros defendem que se deva esperar três
dias em oração, a exemplo de Sara e Tobias (cf.
Tb 8, 4). A verdade é que o casal é totalmente livre a esse respeito. O
importante é que os esposos estejam bem preparados psicologicamente e também
fisicamente dispostos. Não é preciso, neste caso, analisar a questão
antecipadamente, planejando minuciosamente a primeira noite, mas sim deixar que
tudo ocorra naturalmente, permitindo que desde a primeira relação seja o
Espírito a os conduzir um ao outro. Pode ser que aconteça na primeira noite, na
segunda ou mesmo depois de um retiro de cinco dias... Repetimos: o que importa
é se sentirem prontos para se doarem inteiramente um ao outro e não forçados
pela “obrigação” da consumação.
A virgindade é outro ponto que merece
comentários. Quando um deles ou ambos
são virgens, o início da vida sexual pode exigir uma dose extra de delicadeza.
A precipitação ansiosa do homem e o nervosismo da mulher podem tornar as
primeiras relações muito dolorosas e pouco agradáveis. É natural que a mulher, nas
primeiras relações sexuais, sinta dores. Estas dores estão intrinsecamente
ligadas ao grau de relaxamento no qual ela se encontra no momento do ato.
Encarando o fato de que seria uma utopia pensar que a mulher estaria totalmente
livre de tensões em sua primeira relação, faz-se então muito importante a
atuação do homem neste processo. Ele deve se esforçar para que as primeiras
experiências sejam agradáveis para os dois, e não somente para si. É preciso
ter paciência. Ir com calma, não forçar demais. Não agir com “agressividade”, mas sim com
carinho e respeito.
Tudo isso pode ser conversado previamente. A
mulher pode partilhar com seu noivo as suas inseguranças. Um diálogo aberto,
sem tabus ou vergonha, pode ajudar não só no começo, mas em toda a vida sexual
do casal.
Como um último ponto, gostaríamos de tratar
sobre o prazer. O prazer sexual não pode ser encarado com um fim em si mesmo,
mas sim como uma consequência de um ato de doação mútua. Dentro de uma cultura
hedonista, busca-se de todas as formas supervalorizar os prazeres físicos,
multiplicando-os e potencializando-os, pois, para esta, o prazer é um
verdadeiro “deus” e o único fim do homem. Para alcançar a satisfação sexual,
não podemos encarar o prazer desta forma. Não podemos idolatrá-lo a ponto de
submeter a verdade e a fé, cultuando este falso deus através de atos imorais.
Utilizar-se de fetiches pornográficos para promover um maior estímulo e
saciedade sexual pode até proporcionar um aumento do prazer venéreo, mas fere
gravemente o amor, diminui o respeito, envenena a alma e vicia o pensamento.
Quando o prazer se torna o motor da relação, nada que se utilize poderá ser
capaz de saciar o homem na sua integridade de pessoa, sempre haverá um vazio e
uma busca cada vez maior por estímulo e saciedade.
Se o prazer sexual não é um fim, preocupar-se
em demasia com ele, em prol da felicidade, seria um engano. É preciso buscar
intimidade. Permitir que o tempo, gradativa e naturalmente, torne a relação
cada vez mais prazerosa, expressão não somente da sensibilidade do corpo, mas
da comunhão das almas. O prazer não provém apenas da carne, mas também da
alegria do Espírito que habita o amor.
Como dissera Santo Agostinho: “Ame e faça o
que quiseres”. Só o amor nos torna livres para amar com perfeição: “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não
inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus
interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com
a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta.” (1 Cor 13,4-7)
Por fim, inclusive para o sexo, vale a regra
de ouro: confiança em Deus! Quando um casal confia ao Senhor suas inseguranças,
medos, dificuldades e anseios, jamais se decepciona. A felicidade é certa e a alegria
completa.