quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Noite de Núpcias: Keep Calm and...

Por André Krupp e Tássila Maia

Infelizmente, apenas uma pequena parcela da população vive, de fato, a castidade durante o namoro. Mas, para estes casais privilegiados, a noite de núpcias torna-se um dos momentos mais esperados do casamento.
A noite de núpcias consuma o consentimento selado diante do altar. Os esposos tornam-se, verdadeiramente, “in carne una” – uma só carne, e que alegria para o casal poder ter a sua primeira relação nestas condições!
No entanto, a expectativa pelo início da vida sexual é cercada de incertezas e estereótipos, e a ansiedade e falta de conhecimento podem gerar uma série de frustrações.
Tentaremos aqui iluminar alguns pontos sobre este assunto.
Como primeiro ponto, gostaríamos de advertir para os perigos do uso de contraceptivos. E quando utilizamos a palavra “perigo”, não estamos nos referindo aos malefícios biológicos ou aos seus efeitos colaterais, mas sim aos males espirituais e às terríveis consequências decorrentes da tentativa de separar a realidade unitiva e procriativa do ato conjugal. Em outro texto poderemos aprofundar melhor o tema, mas cabe aqui dizer que as duas realidades do sexo são inseparáveis. Não se pode anular uma sem prejudicar a outra. Utilizar contraceptivos significa reduzir a graça unitiva derramada sobre a vida dos cônjuges. O assunto é tão grave que o Código do Direito Canônico declara como não consumado o matrimônio de um casal que ainda não teve uma relação sexual livre do efeito de contraceptivos (cf. CDC, cân. 1061, §1). Em outras palavras, a contracepção impossibilita a consumação do matrimônio. Por este motivo, desde o início da vida sexual é preciso afastar-se deste mal.
Passado este ponto, podemos nos remeter agora à noite de núpcias. Muitos afirmam que a consumação deve ser feita, necessariamente, no dia do casamento. Outros defendem que se deva esperar três dias em oração, a exemplo de Sara e Tobias (cf. Tb 8, 4). A verdade é que o casal é totalmente livre a esse respeito. O importante é que os esposos estejam bem preparados psicologicamente e também fisicamente dispostos. Não é preciso, neste caso, analisar a questão antecipadamente, planejando minuciosamente a primeira noite, mas sim deixar que tudo ocorra naturalmente, permitindo que desde a primeira relação seja o Espírito a os conduzir um ao outro. Pode ser que aconteça na primeira noite, na segunda ou mesmo depois de um retiro de cinco dias... Repetimos: o que importa é se sentirem prontos para se doarem inteiramente um ao outro e não forçados pela “obrigação” da consumação.
A virgindade é outro ponto que merece comentários.  Quando um deles ou ambos são virgens, o início da vida sexual pode exigir uma dose extra de delicadeza. A precipitação ansiosa do homem e o nervosismo da mulher podem tornar as primeiras relações muito dolorosas e pouco agradáveis. É natural que a mulher, nas primeiras relações sexuais, sinta dores. Estas dores estão intrinsecamente ligadas ao grau de relaxamento no qual ela se encontra no momento do ato. Encarando o fato de que seria uma utopia pensar que a mulher estaria totalmente livre de tensões em sua primeira relação, faz-se então muito importante a atuação do homem neste processo. Ele deve se esforçar para que as primeiras experiências sejam agradáveis para os dois, e não somente para si. É preciso ter paciência. Ir com calma, não forçar demais. Não agir com “agressividade”, mas sim com carinho e respeito.
Tudo isso pode ser conversado previamente. A mulher pode partilhar com seu noivo as suas inseguranças. Um diálogo aberto, sem tabus ou vergonha, pode ajudar não só no começo, mas em toda a vida sexual do casal.
Como um último ponto, gostaríamos de tratar sobre o prazer. O prazer sexual não pode ser encarado com um fim em si mesmo, mas sim como uma consequência de um ato de doação mútua. Dentro de uma cultura hedonista, busca-se de todas as formas supervalorizar os prazeres físicos, multiplicando-os e potencializando-os, pois, para esta, o prazer é um verdadeiro “deus” e o único fim do homem. Para alcançar a satisfação sexual, não podemos encarar o prazer desta forma. Não podemos idolatrá-lo a ponto de submeter a verdade e a fé, cultuando este falso deus através de atos imorais. Utilizar-se de fetiches pornográficos para promover um maior estímulo e saciedade sexual pode até proporcionar um aumento do prazer venéreo, mas fere gravemente o amor, diminui o respeito, envenena a alma e vicia o pensamento. Quando o prazer se torna o motor da relação, nada que se utilize poderá ser capaz de saciar o homem na sua integridade de pessoa, sempre haverá um vazio e uma busca cada vez maior por estímulo e saciedade.
Se o prazer sexual não é um fim, preocupar-se em demasia com ele, em prol da felicidade, seria um engano. É preciso buscar intimidade. Permitir que o tempo, gradativa e naturalmente, torne a relação cada vez mais prazerosa, expressão não somente da sensibilidade do corpo, mas da comunhão das almas. O prazer não provém apenas da carne, mas também da alegria do Espírito que habita o amor.
Como dissera Santo Agostinho: “Ame e faça o que quiseres”. Só o amor nos torna livres para amar com perfeição: “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Cor 13,4-7)
Por fim, inclusive para o sexo, vale a regra de ouro: confiança em Deus! Quando um casal confia ao Senhor suas inseguranças, medos, dificuldades e anseios, jamais se decepciona. A felicidade é certa e a alegria completa.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

3 coisas que a Igreja nunca disse sobre sexo

 Por André Krupp e Tássila Maia

1ª) Sexo é pecado

Deus criou o sexo e ordenou que, por meio dele, o homem “enchesse a terra”. (cf. Gênesis 1, 28). A união do homem e da mulher na relação sexual, longe de ser um pecado, é, na verdade, uma correspondência ao desígnio amoroso de Deus para o homem, sinal do amor fiel, livre, total e fecundo de Cristo por sua Esposa, a Igreja.
 “Seja bendita a tua fonte! Regozija-te com a mulher de tua juventude, corça de amor, serva encantadora. Que sejas sempre embriagado com seus encantos e que seus amores te embriaguem sem cessar!” (Provérbios 5,18-20)
Após o pecado original, o homem, afetado por suas consequências, começou a se desvirtuar do plano original de Deus para o sexo.
Mas qual é este plano?
Que homem e mulher se doem inteiramente um ao outro no matrimônio. Assim, o sexo se configura como uma profunda expressão do dom total de si:
“A sexualidade humana é, portanto, um Bem: parte daquele dom criado que Deus viu ser ‘muito bom’ quando criou a pessoa humana à sua imagem e semelhança e ‘homem e mulher os criou’ (Gên. 1, 27). Enquanto modalidade de se relacionar e se abrir aos outros, a sexualidade tem como fim intrínseco o amor, mais precisamente o amor como doação e acolhimento, como dar e receber. A relação entre um homem e uma mulher é uma relação de amor: ‘A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor, que é o único a torná-la verdadeiramente humana’. Quando tal amor se realiza no matrimônio, o dom de si exprime, por intermédio do corpo, a complementaridade e a totalidade do dom; o amor conjugal torna-se, então, força que enriquece e faz crescer as pessoas e, ao mesmo tempo, contribui para alimentar a civilização do amor; quando pelo contrário falta o sentido e o significado do dom na sexualidade, acontece ‘uma civilização das ‘coisas’ e não das ‘pessoas’; uma civilização onde as pessoas se usam como se usam as coisas. No contexto da civilização do desfrutamento, a mulher pode tornar-se para o homem um objeto, os filhos um obstáculo para os pais’.” (Sexualidade Humana: Verdade e Significado, Conselho Pontifício para a Família)
“O prazer sexual é moralmente desordenado quando é buscado por si mesmo, isolado das finalidades de procriação e união” (Catecismo da Igreja Católica, § 2351) e a prática de atos como masturbação, fornicação, pornografia, prostituição, estupro, incesto, contracepção, homossexualismo, orgias, e qualquer outra atitude que denigra a dignidade do ato sexual ou seja puramente realizada em busca de um prazer venéreo torna-se pecado grave.
Em suma: o sexo é um bem, criado por Deus para o bem e sobrevivência do homem. Porém, sua busca desordenada pode levar o homem a perder-se.

2ª) Sexo só serve para a procriação

Deus criou o prazer sexual como característica do ato conjugal. Por isso, não há erro em gozá-lo. “Os atos pelos quais os esposos se unem íntima e castamente são honestos e dignos; realizados de modo autenticamente humano, exprimem e alimentam a mútua entrega pela qual se enriquecem um ao outro com alegria e gratidão. A sexualidade é fonte de alegria e de prazer.” (Catecismo da Igreja Católica, § 2362).
O ato sexual possui duas finalidades inseparáveis: a procriação e a união dos esposos. A comunhão dos corpos e o prazer sexual fortalecem a relação dos cônjuges, que renovam a sua aliança matrimonial através da doação total de si. “Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos próprios esposos e a transmissão da vida. Não podem separar-se estes dois significados ou valores do matrimônio sem alterar a vida espiritual do casal nem comprometer os bens do matrimónio e o futuro da família.” (Catecismo da Igreja Católica, § 2363).

3ª) Após o casamento, vale tudo

“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma.” (I Cor 6, 12)
Uma triste e grande ilusão que muitos cristãos possuem é que após o casamento poderão “libertar” todos os seus desejos, dos mais comuns aos mais exóticos, reproduzindo o que muitas vezes se dá em prostíbulos ou se vê em material pornográfico.
“Foi o próprio Criador Quem [...] estabeleceu que, nesta função [da geração], os esposos experimentassem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal ao procurar este prazer e gozar dele. Aceitam o que o Criador lhes destinou. No entanto, devem saber manter-se dentro dos limites duma justa moderação.” (Papa Pio XII, 29 de outubro de 1951).
Atos como sexo oral e sexo anal, assim como certas carícias e posições sexuais ofendem gravemente a dignidade do ato conjugal e podem levar os esposos a uma total desordem na sua capacidade de amar e se doar.
O ato sexual é sagrado, é um dom de Deus aos esposos, sinal do amor indissolúvel entre Cristo e a Igreja, e somente a partir deste princípio pode-se viver uma sexualidade ordenada e justamente moderada. Esta moderação implica o domínio de si, a fidelidade e o respeito à dignidade da pessoa. “Como o ato sexual foi querido por Deus, devemos entender que Ele está junto do casal nesta hora de ‘liturgia conjugal’. Por isso o casal deve pedir a Deus a graça da harmonia sexual, a fim de realizar em plenitude o que Ele quis para eles. [...] A presença do Senhor deve dar ao casal nesta hora a confiança contra os temores e medos, paz contra os conflitos interiores, força contra a frigidez, serenidade contra a impotência, delicadeza, compreensão, autodomínio, carinhos adequados, maturidade para se afastarem do sexo obsessivo e indigno.” (Vida Sexual no Casamento, Prof. Felipe Aquino).
“Vós todos considerai o matrimônio com respeito e conservai o leito conjugal imaculado, porque Deus julgará os impuros e os adúlteros.” (Hebreus 13,4)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Exemplos práticos de como transformar sua família numa Igreja Doméstica

Por André Krupp e Tássila Maia

A Igreja não é simplesmente um conjunto de templos ou um conjunto de normas. A Igreja é um grupo de pessoas que, unidas pelo Batismo, tornam-se o Corpo Místico de Cristo. Ou seja, todos os batizados são chamados a “ser Igreja” porque, de fato, o são. Em algumas vocações, como a religiosa ou a sacerdotal, fica mais claro este “ser Igreja” no dia a dia. Mas para os leigos, casados, que constituem uma família, essa realidade pode parecer um pouco distante. Como se pode “ser Igreja” dentro da própria casa? Na prática, como fazer da própria família uma Igreja Doméstica?
Este texto tem a intenção de ilustrar alguns pontos práticos a serem trabalhados para facilitar o cumprimento deste objetivo.

Vida de Oração

Quando falamos em “ser Igreja”, primeiramente falamos de vida de oração. Seja na vida pessoal, na vida paroquial ou dentro da família. Se não conseguirmos introduzir momentos de oração com toda a família reunida na rotina do lar nunca iremos conseguir transformá-lo numa Igreja Doméstica.
O “conteúdo” da oração pode ser a própria vida familiar: suas dores, preocupações e alegrias. A recitação do terço de Nossa Senhora, a leitura orante da Palavra ou a realização de uma novena podem ser boas formas de ganhar intimidade espiritual. O mais importante é manter a família sempre unida em oração.
Para ajudar nesta tarefa “é muito aconselhável que as famílias, por mais simples que seja sua casa, reservem um espaço (mesmo na parede apenas), um singelo ambiente, adequado para oração em família. Pode até ser um dos quartos, a sala, ou mesmo a cozinha. Um ‘cantinho de oração’, com símbolos religiosos, a Bíblia, o Crucifixo, o Rosário. Aí os filhos aprenderão a respeitar e a se relacionar com o sagrado, a rezar e a estar com Deus. As crianças deveriam ‘sugar com o leite materno’ o amor de Deus, o louvar, agradecer, suplicar e glorificar a Deus.” (Documento 79, CNBB). Facilmente observamos o esforço de muitas famílias por construir verdadeiros “santuários” para a televisão, empenhando dinheiro e espaço para que aquele ambiente se torne o mais agradável possível. Ora, será que não seria justo separar um canto para a TV menos espaçoso e custoso para se investir em um outro canto mais importante: o da oração? Será que não seria justo, para com Deus e para com a nossa família, preparar um ambiente agradável e confortável para a oração? Tudo é questão de prioridade...
Ajuda preciosa na vida de oração é também o silêncio, não somente durante a oração, mas também ao longo do dia. É preciso abandonar a “síndrome da TV ligada”, o vício de sempre ter “um barulhinho de fundo”. Desligar (ou não ligar tanto) a TV, o rádio e o computador não faz mal a ninguém! Pelo contrário, propiciar momentos de silêncio acalma o coração e a mente, preparando-os para a oração. Além disso, ver menos TV também nos poupa tempo para que possamos fazer coisas mais úteis, permite um maior diálogo entre as pessoas e polui menos a nossa imaginação com cenas inconvenientes.
É muito importante também manter a disciplina na vida de oração, não burlando ou adiando os horários combinados. Neste ponto, a maior responsabilidade se coloca sobre os pais, pois é deles a incumbência de dar o exemplo. O Papa João Paulo II relatou, certa vez: “Meu pai foi uma pessoa admirável e quase todas as minhas recordações de infância e adolescência referem-se a ele. O simples fato de o ver ajoelhar-se teve uma influência decisiva nos meus anos de juventude. Era tão severo consigo próprio, que não necessitava de o ser com o seu filho: bastava o seu exemplo para ensinar a disciplina e o sentido do dever”.
Orar e levar os filhos à oração é a primeira atitude na construção de uma Igreja Doméstica.

“Sentire cum Ecclesia”

A Igreja tem o seu ritmo próprio. Ao longo de todo o ano litúrgico, meditamos os momentos mais importantes da vida de Jesus. Do seu nascimento à morte, as alegrias e as dores, a Transfiguração, o ensinamento dado aos apóstolos, sua Paixão, Ressurreição, Ascensão, a vinda do Espírito sobre a Igreja e tantos outros acontecimentos. Tudo isso para reviver, junto com Cristo, todos estes momentos.
A vivência dos diferentes tempos litúrgicos não deve restringir-se somente para as celebrações na igreja, mas deve estender-se para os lares cristãos. É preciso “sentir com a Igreja”. Por exemplo:

- Celebrar em casa, com boas refeições e muita alegria, as festas dos grandes santos e as solenidades de Nosso Senhor e da Virgem Maria. Fazer “virar tradição” as comemorações familiares das grandes festas da Igreja, promovendo, por exemplo, o “churrasco de São José” ou “a festa mexicana de Nossa Senhora de Guadalupe”... Enfim, o que a imaginação e a devoção particular de cada família mandar!

- Celebrar de forma especial, ainda que simples, os onomásticos (santos xarás) dos pais e filhos.

- Viver o advento e a quaresma com piedade e devoção, respeitando as normas estabelecidas pela Igreja (jejum, recolhimento, obras de caridade, penitência), preparando-se, mais profundamente, para as grandes festas da Natalidade e Ressurreição do Senhor.

- Vivenciar a Semana Santa como um “grande retiro” em família. Este tempo precioso da Igreja não pode, de forma alguma, ser encarado como um “feriadão”, uma oportunidade de descanso e lazer. Ao contrário, deve ser vivido intensamente, mergulhando no mistério pascal de Cristo. Faz bem não só participar das ações litúrgicas, como também respeitar a espiritualidade do dia dentro de casa. Por exemplo: na Sexta-Feira da Paixão celebramos a morte de Nosso Senhor e a Igreja é como que imersa num clima de extremo silêncio e recolhimento. Assim, pede às famílias que realizem o jejum e a abstinência de carne, como forma de penitência. Porém, boa parte das famílias católicas preparam um verdadeiro “banquete” neste dia à base de bacalhau e outros peixes. Será que essa seria uma atitude realmente conveniente? No dia em que se celebra a morte de nosso Deus, convém “fazer festa”? Não. “Sentir com a Igreja” implica trazer para dentro do lar uma atmosfera semelhante a que é vivenciada nas celebrações. Dessa forma, devemos guardar o jejum e a penitência na Sexta-Feira Santa para, com a Igreja, explodir de alegria na Ressurreição. No sábado à noite, após a Vigília Pascal, convém preparar uma grande festa, assim como no Domingo de Páscoa: convidar os parentes, comemorar o dia todo... alegrar-se como Igreja Doméstica!

- Imprimir um ritmo semanal de acordo com a espiritualidade própria do dia, a começar pelo Domingo, dia do Senhor. O domingo deve sempre ser um dia de grande alegria, de boas refeições, passeios e convivência familiar, além, é claro, da participação da Santa Missa com fé e entusiasmo. Na segunda-feira pode-se reservar um tempo para a oração pelos fiéis defuntos. Na quarta-feira, pode-se rezar com devoção a São José. Às sextas-feiras, é muito aconselhável meditar a Paixão do Senhor e observar a abstinência de carne. O sábado pode ser dedicado à devoção à Virgem Santíssima... Criar uma rotina semanal facilita a vivência da espiritualidade e gera muitos frutos na vida familiar.
                                                         
Conhecer a fé

A transmissão da fé é um dever dos pais: “a fecundidade do amor conjugal não se reduz apenas à procriação dos filhos. Deve também estender-se à sua educação moral e à sua formação espiritual. O papel dos pais na educação é de tal importância que é impossível substituí-los. O direito e o dever da educação são primordiais e inalienáveis para os pais” (Catecismo da Igreja Católica, § 2221). Para transmitir a fé, no entanto, é necessário, primeiramente, conhecê-la. A busca pela formação constante, através da leitura do Catecismo e de outros documentos da Igreja, se apresenta como tarefa indispensável para o cumprimento do dever de educar. Reservar um tempo durante a semana para o estudo poderá se transformar numa grande oportunidade de crescimento para os pais e uma catequese para os filhos.

Por fim, ser Igreja Doméstica significa também ser missionário e transmitir, a partir da própria vivência, o amor de Deus a todas as outras famílias: “Cada família comunicará generosamente com as outras as próprias riquezas espirituais. Por isso, a família cristã, nascida de um matrimônio que é imagem e participação da aliança de amor entre Cristo e a Igreja, manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja, quer por meio do amor dos esposos, quer pela sua generosa fecundidade, unidade e fidelidade, quer pela amável cooperação de todos os seus membros” (Gaudium et Spes, 48).

*Algumas famílias compartilham na rede sua experiência enquanto Igreja Doméstica. Vale a pena conhecer!

Deus abençoe as nossas famílias!

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A luta para livrar-se dos pecados da sexualidade

Por Tássila Maia

Pessoas de diversas idades afirmam que deixar os pecados contra a virtude da pureza parece ser uma tarefa quase impossível. Isso se deve às constantes recaídas nos pecados, que geralmente se dão pouco tempo após a confissão. Pessoas nesta situação sentem uma espécie de “fracasso espiritual”, como se não tivessem uma suficiente resolução de emendar-se.
Mas quais são os motivos que tornam a libertação destes pecados (pensamentos impuros, pornografia, masturbação, fornicação, etc) uma tarefa tão trabalhosa?
O primeiro ponto a ser refletido é o contexto atual de sociedade em que vivemos. Estamos imersos num mundo “supersexualizado” que encara o sexo como uma diversão e proporciona doses cada vez mais elevadas de estímulos através dos meios de comunicação. Não raro, ao ligarmos a TV no horário da tarde, nos deparamos com mulheres seminuas dançando de maneira sensual. Quem não se lembra do quadro “Banheira do Gugu”? Pela manhã as crianças já se viam expostas a cenas de dois adultos em trajes de banho (os biquínis eram minúsculos!) atracando-se numa banheira em nome de uma simples “brincadeira”. Tudo isso contribui para a perversão das mentes de adultos e crianças que constantemente se veem expostos a nudez ou cenas eróticas sem nem ao menos terem solicitado.
Sendo assim, quando uma pessoa adquire o hábito de cometer um pecado na área da sexualidade (devido ao excesso de estímulo), facilmente se vê conduzida a uma espécie de vício. Estudos realizados nos EUA chegaram à conclusão de que a constante exposição à pornografia, por exemplo, possui uma ação sobre o cérebro muito semelhante à ação de drogas como o crack. Ao receber determinada dose de estímulo, o cérebro cria uma necessidade cada vez maior destes mesmos estímulos. Daí a explicação para o fato de algumas pessoas passarem horas na frente do computador buscando pornografia. O vício enfraquece a vontade e a liberdade, colocando o indivíduo numa prisão. Assim, pecados da sexualidade já confessados, muitas vezes retornam rapidamente não devido a um falso arrependimento, mas sim por conta da força de um vício já instalado.
Diante deste quadro dramático, os cristãos que se propõem a viver a pureza enfrentarão uma grande batalha interior. No entanto, a vitória sobre tais pecados, longe de ser uma missão impossível, está ao alcance de todos os batizados a partir da redenção operada por Cristo.
O primeiro passo em direção à libertação é tomar uma firme decisão. A partir desta resolução interior por buscar a pureza, a graça de Deus poderá agir com mais eficácia. Nenhum pecado é vencido “ao acaso”. Nenhum santo tornou-se santo “ao acaso”. Basta ler as biografias para constatar que todos, em algum momento da vida, optaram radicalmente por Cristo, tomando uma firme e irreversível decisão de buscar a santidade, com paciência e “violência”! Quando São Francisco jogou-se numa roseira para dispersar as tentações contra a pureza, estava a fazer esta santa violência a si mesmo na luta contra o pecado.
A partir desta firme decisão, não podemos esperar que a virtude da castidade simplesmente “caia do céu”. Enquanto não houver constância na oração, não atingiremos esta meta. Santo Afonso de Ligório nos ensina em seu livro “A Oração” que Deus, ao afirmar por Jesus Cristo: “Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará” (Jo 16,23) estabeleceu a si mesmo a “regra” de não poder negar nenhuma graça espiritual que lhe fosse pedida. No entanto, a oração deve ser humilde, confiante e perseverante. É necessário crer que Deus é soberano, pode e quer livrar seus filhos de todos os vícios. Afirma ainda Santo Afonso: “A castidade é uma virtude que não podemos praticar, se Deus no-la não concede. Deus, porém, só a concede aos que a pedem”.
Outro ponto a ser refletido é que a causa das recaídas em pecados sexuais pode ter a ver não somente com vícios ou estímulos externos, mas também por conta de um “foco excessivo” nesta área, que impede a vigilância necessária em relação a outros pecados. É muito comum escutar confessores reclamarem que as pessoas “só confessam pecados sexuais”. Mas, será mesmo que só cometem pecados nesta área ou estão deixando de vigiar sobre sua conduta geral? É preciso buscar a perfeição combatendo também os pecados do orgulho, a gula, a avareza, a desconfiança de Deus, a falta de amor ao próximo, a vaidade, o apego ao dinheiro, o egoísmo... que muitas vezes se apresentam na alma de maneira muito mais grave que os pecados sexuais. Alcançar uma sexualidade ordenada supõe esforçar-se por ordenar toda a vida, todo o nosso proceder. Assim, de luz em luz, de vitória em vitória, a graça de Deus se tornará cada vez mais abundante, operando com mais força.
Por fim, além da oração e da vigilância, outras atitudes práticas podem ajudar muito. Buscar o equilíbrio em todas as ações, mesmo nas mais cotidianas, “treina” nossa vontade, ajudando assim no combate espiritual: praticar um esporte, jejuar, fugir das ocasiões de pecado, estabelecer uma disciplina de horários diária, partilhar as dificuldades com um diretor espiritual ou amigo de confiança, diminuir o tempo gasto na frente da TV e do computador, ler a Palavra de Deus, empenhar-se em trabalhos sociais... são apenas alguns exemplos de atitudes saudáveis e benéficas neste sentido.
“A castidade é uma conquista difícil, de longo prazo; deve-se esperar pacientemente para que dê seu fruto, pela ternura amorosa que deve trazer. Mas, ao mesmo tempo, a castidade é o caminho certo para a felicidade”. (São João Paulo II)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

10 conselhos aos noivos

Por André Krupp e Tássila Maia

Após um período de conhecimento e aprofundamento da amizade, o casal assume um compromisso de maior responsabilidade que o namoro: o noivado.
Muito além de uma simples mudança de status no Facebook e uma aliança dourada no dedo, este tempo traz consigo grandes preocupações e implica atitudes concretas na preparação imediata para o casamento.
Para auxiliar nesta preparação, listamos 10 conselhos aos noivos:

1-  Tenham claro o sentido do matrimônio
Para que o tempo do noivado seja bem aproveitado e os seus frutos perdurem para o resto da vida, é importante sempre ter bem claro o sentido do matrimônio, ou seja, suas finalidades e o projeto de Deus para as famílias. As decisões deverão sempre ser pautadas neste sentido essencial do casamento, visando alcançar os objetivos propostos por Deus desde a Criação. É fundamental ter sempre em mente que o matrimônio é uma vocação, um chamado especial de Deus à santidade. Por meio deste sacramento, o cotidiano da vida torna-se sagrado e ações, aparentemente comuns, meios de santificação. Pelo matrimônio, Deus passa a habitar a relação desta nova família. O casamento é, portanto, não somente um contrato social entre duas pessoas, mas a estrada que escolheram para percorrerem o seu caminho para a salvação. Tendo clara esta consciência, facilmente o casal poderá, com o auxílio do Espírito Santo, viver bem o seu noivado e o seu casamento.

2-  Não invertam as prioridades
O dia do casamento é apenas o começo de toda uma vida que será construída. É preciso celebrar esta data, mas a preparação deste evento não pode tornar-se mais importante que a preparação da própria vida de casados. Não é saudável permitir que o dinheiro e o tempo investidos para a realização do evento atrapalhem o começo da vida conjugal. Construir um ambiente digno para iniciar a vida a dois e fazer uma boa preparação espiritual e psicológica para o casamento são as prioridades de um noivado. Todo cuidado é pouco para não desperdiçar o tempo do noivado somente com preocupações supérfluas.

3-  Planejem o futuro
O diálogo aberto e sincero é a melhor forma de planejar o futuro a dois. O noivado é o tempo de começar a confrontar conceitos, opiniões, costumes e práticas do dia a dia, chegando, pelo amor, a um consenso que torne agradável (ou pelo menos possível) o convívio na vida conjugal. Como lidar com o dinheiro? Os gastos serão divididos? Terão uma poupança? Quantos quartos precisarão em casa? Existem motivos para adiar os filhos no início do matrimônio? Escola pública ou particular? Plano de saúde? É necessário uma TV no quarto? Qual o melhor lugar para o oratório? Como é possível dividir as tarefas do lar? Pensar e conversar sobre questões práticas da vida previne conflitos e desconfortos após o casamento.

 4-  Tenham conhecimento de causa
A prática da Igreja recomenda que os noivos façam um curso de preparação para o casamento, conhecido como “curso de noivos”. É importante que o casal forme os seus conceitos a respeito da sexualidade, geração de filhos, vida conjugal, etc, iluminado pela luz da fé. A doutrina da Igreja acerca desses assuntos é riquíssima e, por certo, incapaz de ser transmitida apenas em um curso. Portanto, é altamente recomendável que os noivos busquem, através de livros e documentos, esta formação. (Clique neste link para conhecer alguns documentos da Igreja sobre o tema).

5-    Aprendam os métodos naturais
Como católicos, não podemos lançar mão de métodos artificiais contraceptivos, por serem muitas vezes abortivos e moralmente desonestos. Por isso, em muitas dioceses existem cursos sobre os métodos naturais de regulação da natalidade ministrados por profissionais católicos da área de saúde. A Igreja convida os casais, desde o noivado, a aprenderem esses métodos, que se baseiam na observação do ciclo de fertilidade da mulher. O conhecimento dos métodos naturais é importante para colocar em prática a justa generosidade da paternidade responsável, pois sua utilização possibilita o conhecimento do período fértil, o que auxilia os casais que desejam ter filhos como também, os que precisam, por uma justa razão, espaçar os nascimentos.

6-    Cresçam no Espírito
A oração é importantíssima na vida de qualquer cristão. Uma família só construirá sua casa sobre a Rocha orando junto. O noivado é o tempo propício para inserir ou aperfeiçoar a oração na rotina do casal, construindo a base espiritual do matrimônio. Assim como é preciso trabalhar e economizar dinheiro para a cerimônia e a compra da casa e dos móveis, é fundamental dedicar parte do tempo à oração pela futura família. A oração é um dos aspectos do relacionamento que somente a prática trará intimidade e crescimento. Sem vida de oração, dificilmente uma família conseguirá guardar a fé e a integridade.

7-  Tudo lhes é permitido, mas nem tudo lhes convém
Atividades pré-matrimoniais, como: chá de panela, chá de garagem, chá de lingerie, despedida de solteiro, etc, são propostas de diversão muito populares no Brasil. No entanto, é preciso ter discernimento na hora de escolher quais atividades realizar, assim como a forma com que serão realizadas. É necessário aos noivos ponderar as suas motivações e os frutos de cada atividade. A dignidade e o testemunho de fé devem prevalecer sobre qualquer “cultura”. Portanto, se for necessário abrir mão de certas atividades para não ofender a Deus, que se faça. Se não, ao menos, buscar meios de tornar determinada atividade moralmente honesta e saudável.

8-  Saibam que ainda dá tempo
Noivado não é casamento. E, por mais que já tenham tomado a decisão de se casarem, ainda é um período de discernimento. Se por quaisquer motivos um dos dois ou ambos perceberem que o casamento não deve acontecer, não se casem. Tomar a decisão de adiar ou cancelar o casamento pode ser difícil, mas é muito melhor que, depois de casados, constatarem que cometeram um grande erro. Terminar um noivado é doloroso, custoso financeiramente e até constrangedor, mas nada comparado aos traumas e feridas que um divórcio provoca na vida familiar.

9-  Comecem a “deixar pai e mãe”
A dependência e o apego excessivo aos pais pode prejudicar muito a construção de uma nova vida. É preciso estabelecer limites de influência dos pais na vida do casal. Conselhos, opiniões e até mesmo sonhos dos pais podem ser levados em conta, mas é preciso ter bem claro que as decisões a serem tomadas a respeito da vida matrimonial influenciarão diretamente no modus operandi da nova família e, por isso, são de responsabilidade do casal e devem basear-se na sua perspectiva própria, e não na dos pais.

10-  Renovem as amizades
É bom aproximar-se de casais cristãos que já tenham a experiência do matrimônio. Esses casais, em simples conversas cotidianas, ainda que não estejam na intenção de lhes ensinar ou formar, poderão contribuir muito na reflexão de como construirão, na prática, sua vida a dois. O verdadeiro testemunho de uma família cristã é um grandioso auxílio na formação de novas famílias, uma fonte de fortaleza e esperança.


Desejamos aos noivos que este tempo seja muito frutuoso e traga muitas alegrias! 

Documentos da Igreja sobre Matrimônio e Sexualidade

Para ajudar no estudo dos católicos a respeito da vida humana, da sexualidade e do matrimônio, disponibilizamos alguns links com diversos documentos relacionados ao tema:


Publicada em 1930 pelo Papa Pio XI no período em que as denominações protestantes começaram a aceitar a contracepção. Esta Carta Encíclica aborda o tema do matrimônio cristão.


A Constituição Pastoral sobre diversos aspectos da Igreja no mundo atual é fruto do Concílio Vaticano II, publicada em 1965, sob o pontificado de Paulo VI. No primeiro capítulo da Parte II trata especificamente da família cristã.



Esta Carta Encíclica do Papa Paulo VI foi publicada em 1968 e tem como proposta reforçar a posição da Igreja contra os métodos artificiais de contracepção  e também motivar os esposos à vivência da paternidade responsável.


A Exortação Apostólica, do Papa João Paulo II, foi publicada em 1981 e tem como objetivo orientar o clero e todo o povo de Deus sobre a função da família no mundo atual.


Sob o pontificado de João Paulo II, em 1987, a Congregação para a Doutrina da Fé, sob orientação do Papa Bento XVI (então Cardeal Joseph Ratzinger), publicou esta Instrução sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação. Aborda temas como aborto, inseminação artificial, etc.


Publicada em 1994 pelo Papa João Paulo II por ocasião do Ano da Família, esta carta reflete sobre a contribuição da família para a construção da civilização do amor.


Sob o pontificado de João Paulo II, em 1995, o Conselho Pontifício para a Família, sob orientação do Cardeal Alfonso López Trujillo, publicou este documento no intuito de orientar as famílias a respeito da sexualidade humana e educação dos filhos.


Esta Carta Encíclica foi publicada pelo Papa João Paulo II no ano de 1995. Trata de temas como aborto e eutanásia.


Em 1997, o Conselho Pontifício para a Família, expediu este documento na intenção de instruir os confessores sobre alguns temas de moral relacionados à vida conjugal.


Este texto foi aprovado pela 42ª Assembléia Geral da CNBB em abril de 2004. Aborda diversos temas sobre a vida familiar, dando uma noção geral sobre a doutrina da Igreja neste tema.


A maioria destes documentos pode ser encontrada também em versões impressas, disponibilizados em português por editoras católicas.