quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Noite de Núpcias: Keep Calm and...

Por André Krupp e Tássila Maia

Infelizmente, apenas uma pequena parcela da população vive, de fato, a castidade durante o namoro. Mas, para estes casais privilegiados, a noite de núpcias torna-se um dos momentos mais esperados do casamento.
A noite de núpcias consuma o consentimento selado diante do altar. Os esposos tornam-se, verdadeiramente, “in carne una” – uma só carne, e que alegria para o casal poder ter a sua primeira relação nestas condições!
No entanto, a expectativa pelo início da vida sexual é cercada de incertezas e estereótipos, e a ansiedade e falta de conhecimento podem gerar uma série de frustrações.
Tentaremos aqui iluminar alguns pontos sobre este assunto.
Como primeiro ponto, gostaríamos de advertir para os perigos do uso de contraceptivos. E quando utilizamos a palavra “perigo”, não estamos nos referindo aos malefícios biológicos ou aos seus efeitos colaterais, mas sim aos males espirituais e às terríveis consequências decorrentes da tentativa de separar a realidade unitiva e procriativa do ato conjugal. Em outro texto poderemos aprofundar melhor o tema, mas cabe aqui dizer que as duas realidades do sexo são inseparáveis. Não se pode anular uma sem prejudicar a outra. Utilizar contraceptivos significa reduzir a graça unitiva derramada sobre a vida dos cônjuges. O assunto é tão grave que o Código do Direito Canônico declara como não consumado o matrimônio de um casal que ainda não teve uma relação sexual livre do efeito de contraceptivos (cf. CDC, cân. 1061, §1). Em outras palavras, a contracepção impossibilita a consumação do matrimônio. Por este motivo, desde o início da vida sexual é preciso afastar-se deste mal.
Passado este ponto, podemos nos remeter agora à noite de núpcias. Muitos afirmam que a consumação deve ser feita, necessariamente, no dia do casamento. Outros defendem que se deva esperar três dias em oração, a exemplo de Sara e Tobias (cf. Tb 8, 4). A verdade é que o casal é totalmente livre a esse respeito. O importante é que os esposos estejam bem preparados psicologicamente e também fisicamente dispostos. Não é preciso, neste caso, analisar a questão antecipadamente, planejando minuciosamente a primeira noite, mas sim deixar que tudo ocorra naturalmente, permitindo que desde a primeira relação seja o Espírito a os conduzir um ao outro. Pode ser que aconteça na primeira noite, na segunda ou mesmo depois de um retiro de cinco dias... Repetimos: o que importa é se sentirem prontos para se doarem inteiramente um ao outro e não forçados pela “obrigação” da consumação.
A virgindade é outro ponto que merece comentários.  Quando um deles ou ambos são virgens, o início da vida sexual pode exigir uma dose extra de delicadeza. A precipitação ansiosa do homem e o nervosismo da mulher podem tornar as primeiras relações muito dolorosas e pouco agradáveis. É natural que a mulher, nas primeiras relações sexuais, sinta dores. Estas dores estão intrinsecamente ligadas ao grau de relaxamento no qual ela se encontra no momento do ato. Encarando o fato de que seria uma utopia pensar que a mulher estaria totalmente livre de tensões em sua primeira relação, faz-se então muito importante a atuação do homem neste processo. Ele deve se esforçar para que as primeiras experiências sejam agradáveis para os dois, e não somente para si. É preciso ter paciência. Ir com calma, não forçar demais. Não agir com “agressividade”, mas sim com carinho e respeito.
Tudo isso pode ser conversado previamente. A mulher pode partilhar com seu noivo as suas inseguranças. Um diálogo aberto, sem tabus ou vergonha, pode ajudar não só no começo, mas em toda a vida sexual do casal.
Como um último ponto, gostaríamos de tratar sobre o prazer. O prazer sexual não pode ser encarado com um fim em si mesmo, mas sim como uma consequência de um ato de doação mútua. Dentro de uma cultura hedonista, busca-se de todas as formas supervalorizar os prazeres físicos, multiplicando-os e potencializando-os, pois, para esta, o prazer é um verdadeiro “deus” e o único fim do homem. Para alcançar a satisfação sexual, não podemos encarar o prazer desta forma. Não podemos idolatrá-lo a ponto de submeter a verdade e a fé, cultuando este falso deus através de atos imorais. Utilizar-se de fetiches pornográficos para promover um maior estímulo e saciedade sexual pode até proporcionar um aumento do prazer venéreo, mas fere gravemente o amor, diminui o respeito, envenena a alma e vicia o pensamento. Quando o prazer se torna o motor da relação, nada que se utilize poderá ser capaz de saciar o homem na sua integridade de pessoa, sempre haverá um vazio e uma busca cada vez maior por estímulo e saciedade.
Se o prazer sexual não é um fim, preocupar-se em demasia com ele, em prol da felicidade, seria um engano. É preciso buscar intimidade. Permitir que o tempo, gradativa e naturalmente, torne a relação cada vez mais prazerosa, expressão não somente da sensibilidade do corpo, mas da comunhão das almas. O prazer não provém apenas da carne, mas também da alegria do Espírito que habita o amor.
Como dissera Santo Agostinho: “Ame e faça o que quiseres”. Só o amor nos torna livres para amar com perfeição: “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Cor 13,4-7)
Por fim, inclusive para o sexo, vale a regra de ouro: confiança em Deus! Quando um casal confia ao Senhor suas inseguranças, medos, dificuldades e anseios, jamais se decepciona. A felicidade é certa e a alegria completa.

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