Por Tássila Maia
Pessoas de diversas idades afirmam que deixar
os pecados contra a virtude da pureza parece ser uma tarefa quase impossível.
Isso se deve às constantes recaídas nos pecados, que geralmente se dão pouco tempo
após a confissão. Pessoas nesta situação sentem uma espécie de “fracasso
espiritual”, como se não tivessem uma suficiente resolução de emendar-se.
Mas quais são os motivos que tornam a
libertação destes pecados (pensamentos impuros, pornografia, masturbação,
fornicação, etc) uma tarefa tão trabalhosa?
O primeiro ponto a ser refletido é o contexto
atual de sociedade em que vivemos. Estamos imersos num mundo “supersexualizado”
que encara o sexo como uma diversão e proporciona doses cada vez mais elevadas
de estímulos através dos meios de comunicação. Não raro, ao ligarmos a TV no
horário da tarde, nos deparamos com mulheres seminuas dançando de maneira
sensual. Quem não se lembra do quadro “Banheira do Gugu”? Pela manhã as
crianças já se viam expostas a cenas de dois adultos em trajes de banho (os
biquínis eram minúsculos!) atracando-se numa banheira em nome de uma simples
“brincadeira”. Tudo isso contribui para a perversão das mentes de adultos e
crianças que constantemente se veem expostos a nudez ou cenas eróticas sem nem
ao menos terem solicitado.
Sendo assim, quando uma pessoa adquire o
hábito de cometer um pecado na área da sexualidade (devido ao excesso de
estímulo), facilmente se vê conduzida a uma espécie de vício. Estudos realizados nos EUA chegaram à conclusão de que a constante exposição à
pornografia, por exemplo, possui uma ação sobre o cérebro muito semelhante à
ação de drogas como o crack. Ao receber determinada dose de estímulo, o cérebro
cria uma necessidade cada vez maior destes mesmos estímulos. Daí a explicação
para o fato de algumas pessoas passarem horas na frente do computador buscando
pornografia. O vício enfraquece a vontade e a liberdade, colocando o indivíduo
numa prisão. Assim, pecados da sexualidade já confessados, muitas vezes retornam
rapidamente não devido a um falso arrependimento, mas sim por conta da força de
um vício já instalado.
Diante deste quadro dramático, os cristãos
que se propõem a viver a pureza enfrentarão uma grande batalha interior. No
entanto, a vitória sobre tais pecados, longe de ser uma missão impossível, está
ao alcance de todos os batizados a partir da redenção operada por Cristo.
O primeiro passo em direção à libertação é
tomar uma firme decisão. A partir desta resolução interior por buscar a pureza,
a graça de Deus poderá agir com mais eficácia. Nenhum pecado é vencido “ao
acaso”. Nenhum santo tornou-se santo “ao acaso”. Basta ler as biografias para
constatar que todos, em algum momento da vida, optaram radicalmente por Cristo,
tomando uma firme e irreversível decisão de buscar a santidade, com paciência e
“violência”! Quando São Francisco jogou-se numa roseira para dispersar as
tentações contra a pureza, estava a fazer esta santa violência a si mesmo na
luta contra o pecado.
A partir desta firme decisão, não podemos
esperar que a virtude da castidade simplesmente “caia do céu”. Enquanto não
houver constância na oração, não atingiremos esta meta. Santo Afonso de Ligório
nos ensina em seu livro “A Oração” que Deus, ao afirmar por Jesus Cristo: “Em
verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará”
(Jo 16,23) estabeleceu a si mesmo a “regra” de não poder negar nenhuma graça
espiritual que lhe fosse pedida. No entanto, a oração deve ser humilde, confiante
e perseverante. É necessário crer que Deus é soberano, pode e quer livrar seus
filhos de todos os vícios. Afirma ainda Santo Afonso: “A castidade é uma
virtude que não podemos praticar, se Deus no-la não concede. Deus, porém, só a
concede aos que a pedem”.
Outro ponto a ser refletido é que a causa das
recaídas em pecados sexuais pode ter a ver não somente com vícios ou estímulos
externos, mas também por conta de um “foco excessivo” nesta área, que impede a vigilância
necessária em relação a outros pecados. É muito comum escutar confessores
reclamarem que as pessoas “só confessam pecados sexuais”. Mas, será mesmo que
só cometem pecados nesta área ou estão deixando de vigiar sobre sua conduta
geral? É preciso buscar a perfeição combatendo também os pecados do orgulho, a
gula, a avareza, a desconfiança de Deus, a falta de amor ao próximo, a vaidade,
o apego ao dinheiro, o egoísmo... que muitas vezes se apresentam na alma de
maneira muito mais grave que os pecados sexuais. Alcançar uma sexualidade
ordenada supõe esforçar-se por ordenar toda a vida, todo o nosso proceder.
Assim, de luz em luz, de vitória em vitória, a graça de Deus se tornará cada
vez mais abundante, operando com mais força.
Por fim, além da oração e da vigilância,
outras atitudes práticas podem ajudar muito. Buscar o equilíbrio em todas as
ações, mesmo nas mais cotidianas, “treina” nossa vontade, ajudando assim no
combate espiritual: praticar um esporte, jejuar, fugir das ocasiões de pecado, estabelecer
uma disciplina de horários diária, partilhar as dificuldades com um diretor espiritual
ou amigo de confiança, diminuir o tempo gasto na frente da TV e do computador,
ler a Palavra de Deus, empenhar-se em trabalhos sociais... são apenas alguns
exemplos de atitudes saudáveis e benéficas neste sentido.
“A
castidade é uma conquista difícil, de longo prazo; deve-se esperar
pacientemente para que dê seu fruto, pela ternura amorosa que deve trazer. Mas,
ao mesmo tempo, a castidade é o caminho certo para a felicidade”. (São João
Paulo II)
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