quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A luta para livrar-se dos pecados da sexualidade

Por Tássila Maia

Pessoas de diversas idades afirmam que deixar os pecados contra a virtude da pureza parece ser uma tarefa quase impossível. Isso se deve às constantes recaídas nos pecados, que geralmente se dão pouco tempo após a confissão. Pessoas nesta situação sentem uma espécie de “fracasso espiritual”, como se não tivessem uma suficiente resolução de emendar-se.
Mas quais são os motivos que tornam a libertação destes pecados (pensamentos impuros, pornografia, masturbação, fornicação, etc) uma tarefa tão trabalhosa?
O primeiro ponto a ser refletido é o contexto atual de sociedade em que vivemos. Estamos imersos num mundo “supersexualizado” que encara o sexo como uma diversão e proporciona doses cada vez mais elevadas de estímulos através dos meios de comunicação. Não raro, ao ligarmos a TV no horário da tarde, nos deparamos com mulheres seminuas dançando de maneira sensual. Quem não se lembra do quadro “Banheira do Gugu”? Pela manhã as crianças já se viam expostas a cenas de dois adultos em trajes de banho (os biquínis eram minúsculos!) atracando-se numa banheira em nome de uma simples “brincadeira”. Tudo isso contribui para a perversão das mentes de adultos e crianças que constantemente se veem expostos a nudez ou cenas eróticas sem nem ao menos terem solicitado.
Sendo assim, quando uma pessoa adquire o hábito de cometer um pecado na área da sexualidade (devido ao excesso de estímulo), facilmente se vê conduzida a uma espécie de vício. Estudos realizados nos EUA chegaram à conclusão de que a constante exposição à pornografia, por exemplo, possui uma ação sobre o cérebro muito semelhante à ação de drogas como o crack. Ao receber determinada dose de estímulo, o cérebro cria uma necessidade cada vez maior destes mesmos estímulos. Daí a explicação para o fato de algumas pessoas passarem horas na frente do computador buscando pornografia. O vício enfraquece a vontade e a liberdade, colocando o indivíduo numa prisão. Assim, pecados da sexualidade já confessados, muitas vezes retornam rapidamente não devido a um falso arrependimento, mas sim por conta da força de um vício já instalado.
Diante deste quadro dramático, os cristãos que se propõem a viver a pureza enfrentarão uma grande batalha interior. No entanto, a vitória sobre tais pecados, longe de ser uma missão impossível, está ao alcance de todos os batizados a partir da redenção operada por Cristo.
O primeiro passo em direção à libertação é tomar uma firme decisão. A partir desta resolução interior por buscar a pureza, a graça de Deus poderá agir com mais eficácia. Nenhum pecado é vencido “ao acaso”. Nenhum santo tornou-se santo “ao acaso”. Basta ler as biografias para constatar que todos, em algum momento da vida, optaram radicalmente por Cristo, tomando uma firme e irreversível decisão de buscar a santidade, com paciência e “violência”! Quando São Francisco jogou-se numa roseira para dispersar as tentações contra a pureza, estava a fazer esta santa violência a si mesmo na luta contra o pecado.
A partir desta firme decisão, não podemos esperar que a virtude da castidade simplesmente “caia do céu”. Enquanto não houver constância na oração, não atingiremos esta meta. Santo Afonso de Ligório nos ensina em seu livro “A Oração” que Deus, ao afirmar por Jesus Cristo: “Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará” (Jo 16,23) estabeleceu a si mesmo a “regra” de não poder negar nenhuma graça espiritual que lhe fosse pedida. No entanto, a oração deve ser humilde, confiante e perseverante. É necessário crer que Deus é soberano, pode e quer livrar seus filhos de todos os vícios. Afirma ainda Santo Afonso: “A castidade é uma virtude que não podemos praticar, se Deus no-la não concede. Deus, porém, só a concede aos que a pedem”.
Outro ponto a ser refletido é que a causa das recaídas em pecados sexuais pode ter a ver não somente com vícios ou estímulos externos, mas também por conta de um “foco excessivo” nesta área, que impede a vigilância necessária em relação a outros pecados. É muito comum escutar confessores reclamarem que as pessoas “só confessam pecados sexuais”. Mas, será mesmo que só cometem pecados nesta área ou estão deixando de vigiar sobre sua conduta geral? É preciso buscar a perfeição combatendo também os pecados do orgulho, a gula, a avareza, a desconfiança de Deus, a falta de amor ao próximo, a vaidade, o apego ao dinheiro, o egoísmo... que muitas vezes se apresentam na alma de maneira muito mais grave que os pecados sexuais. Alcançar uma sexualidade ordenada supõe esforçar-se por ordenar toda a vida, todo o nosso proceder. Assim, de luz em luz, de vitória em vitória, a graça de Deus se tornará cada vez mais abundante, operando com mais força.
Por fim, além da oração e da vigilância, outras atitudes práticas podem ajudar muito. Buscar o equilíbrio em todas as ações, mesmo nas mais cotidianas, “treina” nossa vontade, ajudando assim no combate espiritual: praticar um esporte, jejuar, fugir das ocasiões de pecado, estabelecer uma disciplina de horários diária, partilhar as dificuldades com um diretor espiritual ou amigo de confiança, diminuir o tempo gasto na frente da TV e do computador, ler a Palavra de Deus, empenhar-se em trabalhos sociais... são apenas alguns exemplos de atitudes saudáveis e benéficas neste sentido.
“A castidade é uma conquista difícil, de longo prazo; deve-se esperar pacientemente para que dê seu fruto, pela ternura amorosa que deve trazer. Mas, ao mesmo tempo, a castidade é o caminho certo para a felicidade”. (São João Paulo II)

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