quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Exemplos práticos de como transformar sua família numa Igreja Doméstica

Por André Krupp e Tássila Maia

A Igreja não é simplesmente um conjunto de templos ou um conjunto de normas. A Igreja é um grupo de pessoas que, unidas pelo Batismo, tornam-se o Corpo Místico de Cristo. Ou seja, todos os batizados são chamados a “ser Igreja” porque, de fato, o são. Em algumas vocações, como a religiosa ou a sacerdotal, fica mais claro este “ser Igreja” no dia a dia. Mas para os leigos, casados, que constituem uma família, essa realidade pode parecer um pouco distante. Como se pode “ser Igreja” dentro da própria casa? Na prática, como fazer da própria família uma Igreja Doméstica?
Este texto tem a intenção de ilustrar alguns pontos práticos a serem trabalhados para facilitar o cumprimento deste objetivo.

Vida de Oração

Quando falamos em “ser Igreja”, primeiramente falamos de vida de oração. Seja na vida pessoal, na vida paroquial ou dentro da família. Se não conseguirmos introduzir momentos de oração com toda a família reunida na rotina do lar nunca iremos conseguir transformá-lo numa Igreja Doméstica.
O “conteúdo” da oração pode ser a própria vida familiar: suas dores, preocupações e alegrias. A recitação do terço de Nossa Senhora, a leitura orante da Palavra ou a realização de uma novena podem ser boas formas de ganhar intimidade espiritual. O mais importante é manter a família sempre unida em oração.
Para ajudar nesta tarefa “é muito aconselhável que as famílias, por mais simples que seja sua casa, reservem um espaço (mesmo na parede apenas), um singelo ambiente, adequado para oração em família. Pode até ser um dos quartos, a sala, ou mesmo a cozinha. Um ‘cantinho de oração’, com símbolos religiosos, a Bíblia, o Crucifixo, o Rosário. Aí os filhos aprenderão a respeitar e a se relacionar com o sagrado, a rezar e a estar com Deus. As crianças deveriam ‘sugar com o leite materno’ o amor de Deus, o louvar, agradecer, suplicar e glorificar a Deus.” (Documento 79, CNBB). Facilmente observamos o esforço de muitas famílias por construir verdadeiros “santuários” para a televisão, empenhando dinheiro e espaço para que aquele ambiente se torne o mais agradável possível. Ora, será que não seria justo separar um canto para a TV menos espaçoso e custoso para se investir em um outro canto mais importante: o da oração? Será que não seria justo, para com Deus e para com a nossa família, preparar um ambiente agradável e confortável para a oração? Tudo é questão de prioridade...
Ajuda preciosa na vida de oração é também o silêncio, não somente durante a oração, mas também ao longo do dia. É preciso abandonar a “síndrome da TV ligada”, o vício de sempre ter “um barulhinho de fundo”. Desligar (ou não ligar tanto) a TV, o rádio e o computador não faz mal a ninguém! Pelo contrário, propiciar momentos de silêncio acalma o coração e a mente, preparando-os para a oração. Além disso, ver menos TV também nos poupa tempo para que possamos fazer coisas mais úteis, permite um maior diálogo entre as pessoas e polui menos a nossa imaginação com cenas inconvenientes.
É muito importante também manter a disciplina na vida de oração, não burlando ou adiando os horários combinados. Neste ponto, a maior responsabilidade se coloca sobre os pais, pois é deles a incumbência de dar o exemplo. O Papa João Paulo II relatou, certa vez: “Meu pai foi uma pessoa admirável e quase todas as minhas recordações de infância e adolescência referem-se a ele. O simples fato de o ver ajoelhar-se teve uma influência decisiva nos meus anos de juventude. Era tão severo consigo próprio, que não necessitava de o ser com o seu filho: bastava o seu exemplo para ensinar a disciplina e o sentido do dever”.
Orar e levar os filhos à oração é a primeira atitude na construção de uma Igreja Doméstica.

“Sentire cum Ecclesia”

A Igreja tem o seu ritmo próprio. Ao longo de todo o ano litúrgico, meditamos os momentos mais importantes da vida de Jesus. Do seu nascimento à morte, as alegrias e as dores, a Transfiguração, o ensinamento dado aos apóstolos, sua Paixão, Ressurreição, Ascensão, a vinda do Espírito sobre a Igreja e tantos outros acontecimentos. Tudo isso para reviver, junto com Cristo, todos estes momentos.
A vivência dos diferentes tempos litúrgicos não deve restringir-se somente para as celebrações na igreja, mas deve estender-se para os lares cristãos. É preciso “sentir com a Igreja”. Por exemplo:

- Celebrar em casa, com boas refeições e muita alegria, as festas dos grandes santos e as solenidades de Nosso Senhor e da Virgem Maria. Fazer “virar tradição” as comemorações familiares das grandes festas da Igreja, promovendo, por exemplo, o “churrasco de São José” ou “a festa mexicana de Nossa Senhora de Guadalupe”... Enfim, o que a imaginação e a devoção particular de cada família mandar!

- Celebrar de forma especial, ainda que simples, os onomásticos (santos xarás) dos pais e filhos.

- Viver o advento e a quaresma com piedade e devoção, respeitando as normas estabelecidas pela Igreja (jejum, recolhimento, obras de caridade, penitência), preparando-se, mais profundamente, para as grandes festas da Natalidade e Ressurreição do Senhor.

- Vivenciar a Semana Santa como um “grande retiro” em família. Este tempo precioso da Igreja não pode, de forma alguma, ser encarado como um “feriadão”, uma oportunidade de descanso e lazer. Ao contrário, deve ser vivido intensamente, mergulhando no mistério pascal de Cristo. Faz bem não só participar das ações litúrgicas, como também respeitar a espiritualidade do dia dentro de casa. Por exemplo: na Sexta-Feira da Paixão celebramos a morte de Nosso Senhor e a Igreja é como que imersa num clima de extremo silêncio e recolhimento. Assim, pede às famílias que realizem o jejum e a abstinência de carne, como forma de penitência. Porém, boa parte das famílias católicas preparam um verdadeiro “banquete” neste dia à base de bacalhau e outros peixes. Será que essa seria uma atitude realmente conveniente? No dia em que se celebra a morte de nosso Deus, convém “fazer festa”? Não. “Sentir com a Igreja” implica trazer para dentro do lar uma atmosfera semelhante a que é vivenciada nas celebrações. Dessa forma, devemos guardar o jejum e a penitência na Sexta-Feira Santa para, com a Igreja, explodir de alegria na Ressurreição. No sábado à noite, após a Vigília Pascal, convém preparar uma grande festa, assim como no Domingo de Páscoa: convidar os parentes, comemorar o dia todo... alegrar-se como Igreja Doméstica!

- Imprimir um ritmo semanal de acordo com a espiritualidade própria do dia, a começar pelo Domingo, dia do Senhor. O domingo deve sempre ser um dia de grande alegria, de boas refeições, passeios e convivência familiar, além, é claro, da participação da Santa Missa com fé e entusiasmo. Na segunda-feira pode-se reservar um tempo para a oração pelos fiéis defuntos. Na quarta-feira, pode-se rezar com devoção a São José. Às sextas-feiras, é muito aconselhável meditar a Paixão do Senhor e observar a abstinência de carne. O sábado pode ser dedicado à devoção à Virgem Santíssima... Criar uma rotina semanal facilita a vivência da espiritualidade e gera muitos frutos na vida familiar.
                                                         
Conhecer a fé

A transmissão da fé é um dever dos pais: “a fecundidade do amor conjugal não se reduz apenas à procriação dos filhos. Deve também estender-se à sua educação moral e à sua formação espiritual. O papel dos pais na educação é de tal importância que é impossível substituí-los. O direito e o dever da educação são primordiais e inalienáveis para os pais” (Catecismo da Igreja Católica, § 2221). Para transmitir a fé, no entanto, é necessário, primeiramente, conhecê-la. A busca pela formação constante, através da leitura do Catecismo e de outros documentos da Igreja, se apresenta como tarefa indispensável para o cumprimento do dever de educar. Reservar um tempo durante a semana para o estudo poderá se transformar numa grande oportunidade de crescimento para os pais e uma catequese para os filhos.

Por fim, ser Igreja Doméstica significa também ser missionário e transmitir, a partir da própria vivência, o amor de Deus a todas as outras famílias: “Cada família comunicará generosamente com as outras as próprias riquezas espirituais. Por isso, a família cristã, nascida de um matrimônio que é imagem e participação da aliança de amor entre Cristo e a Igreja, manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja, quer por meio do amor dos esposos, quer pela sua generosa fecundidade, unidade e fidelidade, quer pela amável cooperação de todos os seus membros” (Gaudium et Spes, 48).

*Algumas famílias compartilham na rede sua experiência enquanto Igreja Doméstica. Vale a pena conhecer!

Deus abençoe as nossas famílias!

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